05 maio 2013

UM POVO UNIDO NA TERRA DOS HOMENS



UM POVO UNIDO NA TERRA DOS HOMENS

1.º de Maio de 2013, no Porto

Na manifestação no 1.º de Maio promovida pela C.G.T.P., na cidade do Porto, chamou-me em particular atenção, um grupo de jovens com uma faixa onde se lia “Juventude Operária Católica”.

Quando eu tinha sensivelmente a idade deles, lembro-me que alguns meus amigos, faziam parte desta organização que se movimenta no seio da igreja católica, e que dá pela sigla JOC.

Volta e meia lá conversávamos à mesa de qualquer café sobre a JOC, e lá me tentavam aliciar para aderir àquela organização, isto muito antes do 25 de Abril.

Capa do livro,impresso a offeset

A certa altura, o meu amigo ofereceu-me um livro que guardo religiosamente, com o título “ Eu canto para que os desertos fiquem à sombra”. 


Na contra capa, uma citação de Lucas 21-28
“Erguei-vos, levantai a cabeça porque a vossa libertação está próxima”.

Esta era uma edição dos Organismos Operários da Acção Católica.

O mais interessante, é que no miolo deste livro não só se encontra cânticos litúrgicos, como letras de canções interpretadas por: 

José Afonso, Luís Cília, Manuel Freire, Adriano Correia de Oliveira, Francisco Fanhais, Chico Buarque entre outros. 

Os Vampiros de José Afonso, na página 14.


O prefácio deste livro reza assim:

Um povo unido na terra dos homens

A terra dos homens apaixona-nos. Ela é o lugar da poesia, da canção, da alegria, e ao mesmo tempo o lugar da tragédia, do ódio, dos meninos com fome. Ninguém pode fugir, ninguém deve querer fugir a esta paixão em que o drama humano é compartilhado com todos. Mas a paixão não significa apenas dor, significa também empenhamento; drama não significa apenas luto, mas também progresso. A razão deste drama e desta paixão está no facto de ainda não termos conseguido mudar a face do mundo apesar da nossa esperança. E só o conseguiremos se o nosso trabalho for realizado ombro a ombro, e o nosso descanso acontecer de mãos dadas. Só assim seremos um povo, o povo, e só assim seremos capazes de transformar i mundo e fazer dele a Terra dos homens. É dentro desta linha que se encontra este pequeno livro. Também ele pretende ser o local de encontro, o lugar da poesia, da canção, da alegria, e ao mesmo tempo o lugar da tragédia, do ódio, dos meninos com fome.

Nele há casas construídas por mãos rugosas e calejadas, também há templos que os homens teimam em edificar apesar da chuva. Há praças onde os homens querem ser iguais e onde as raparigas são bem recebidas. Há jardins onde as crianças não perguntam pela cor do sangue umas das outras e donde os pardais não fogem. Também há escolas cheias de meninos e de velhos. Há o sol e a chuva do meu país.

Por detrás dos poemas escondem-se os homens.

Vamos ao encontro deles.

Hoje, querem-nos fazer voltar aos velhos caminhos donde viemos nessa madrugada de Abril.

Temos que começar de novo a caminhada da esperança.

Tal como outrora, é preciso avisar toda a gente, e como escreveu Sofia de Mello Breyner, “ Vemos ouvimos e lemos, não podemos ignorar”.

 
- Bom domingo!