CAPELA DE NOSSA SENHORA DA LAPA
E A LENDA
DE
NOSSA SENHORA DA LAPA
Fachada da capela |
A 12 de Maio de 1622,
iniciou-se a construção da igreja da Misericórdia, por iniciativa do benemérito
padre Amaro Moreira.
Na capela-mor da
igreja, do lado da epístola, há uma inscrição “Anno 1631”, que se julga dizer
respeito ao ano da sua conclusão e entrega à Misericórdia, pelo seu fundador.
A primeira missa na
Igreja da Misericórdia, em Penafiel, foi celebrada pelo padre Pedro de
Meireles, abade de S. Paio de Casais, do concelho de Penafiel, e o sermão
esteve a cargo do padre pregador Frei Ildefonso de S. Bernardo, frade
beneditino, abade do Mosteiro de Arnóia, ambos sobrinhos do padre Amaro
Moreira.
Com a elevação da vila
Arrifana de Sousa a cidade de Penafiel, em 3 de Março de 1770, foi criada, em 1
de Junho de 1770, por bula do Papa Clemente XIV, a diocese de Penafiel.
O bispo nomeado foi Dom
Frei Inácio de São Caetano, que nunca cá pôs os pés, e que pediu a renúncia em
1778, um ano depois de D. Maria I subir ao trono, terminando com a diocese de
Penafiel.
Igreja da Misericórdia |
Em 1771, a Igreja da
Misericórdia foi elevada à categoria de Sé Catedral e passou a denominar-se de Igreja
de Jesus, Maria e José, voltando a chamar-se Misericórdia no final da diocese.
Daí que, em 1783,
encontramos a Misericórdia a ajustar a obra do zimbório da torre e a proceder
ao seu acabamento.
Se dinheiro não havia
para as obras da parte da igreja virada para a Praça Municipal, incluindo a
conclusão da torre sineira, imaginação para o arranjar não faltava.
Lado poente da Igreja da Misericórdia |
Começou então a correr
entre a população, que apareceu pintada uma imagem de Nossa Senhora da Lapa,
junto ao cunhal superior externo do corpo da igreja, que por muito que fosse
lavada e raspada, sempre reaparecia com maior visibilidade.
Deste “milagre” que
impressionou as populações locais e circundantes, foi construída uma capela em
madeira, promovendo-se uma grande romaria anual à Santa e, obviamente,
angariação de rendimentos que permitiram a construção da torre, bem como toda
aquela fachada voltada a poente, que nunca chegou a ser concluída.
Em 1779, já a nova
administração da Misericórdia tinha reunido 500 ou 600$000 de esmolas, para
refazer em pedra a capela primitiva de madeira.
Capela e torre sineira |
Iniciado o carreto de
pedra e os outros trabalhos preliminares pelo mestre pedreiro Bernardo
Fontainha, a Câmara embargou os trabalhos e mandou retirar os materiais da
praça pública.
Câmara e Santa Casa da
Misericórdia desentendem-se e cada um esgrime os seus argumentos ao ponto de o
processo subir até ao Desembargo do Paço, que depois de escutadas várias
réplicas e pareceres, tomou a 10 de Maio de 1780 posição favorável à
Misericórdia, incentivando-a a não “perder tempo na construção da capela em
pedra em honra a Nossa Senhora da Lapa.
No diário de um frade
de Bustelo, que foi cair nas mãos do padre Justino, de Carrazedo, lê-se a
“milagrosa” lenda que deu origem à capela.
Por isso, o aparecimento
de Nossa Senhora da Lapa não passou de uma piedosa fraude para poder tornar
mais sumptuoso o templo da Misericórdia.
Hoje, talvez para
branquear um pouco toda esta marosca, a capela foi rebaptizada de S. Cristóvão,
embora na fachada principal da capela, ainda se encontra esculpido em granito
um brasão com a imagem da N.S. da Lapa, em corpo inteiro, não coroada, e sobre a porta metida num nicho, também em granito a Nossa Senhora da Lapa coroada.
Como diz a sabedoria
popular, “a mentira tem perna curta”, e assim morreu a galinha dos ovos de
oiro, ficando as obras por acabar, sendo vulgarmente apelidadas de capelas
imperfeitas.
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