A MALTA DA 1.ª CLASSE
A
MALTA DA 1.ª CLASSE
1957 - A malta da 1.ª Classe |
No antigamente da vida,
o ensino em Portugal, só era obrigatório até à 4.ª classe ou instrução
primária.
As turmas eram enormes,
e as dificuldades económicas nem se fala.
Esta foto foi tirada em
1957, quando entrei para a 1.ª classe.
Como se pode ver, muitos dos colegas de
turma não usavam calçado, e as roupas eram adaptadas com o saber das mães, que
inclusivamente das suas mãos saía a sacola onde eram transportados os livros,
os cadernos, a lousa, a pena de ardósia para escrever na lousa, os lápis, e a
borracha.
Os livros passavam de
irmão para irmão, de primos, para o vizinho mais necessitado, já que não
perdiam a validade como agora.
A aprendizagem era
feita à base de decorar, e os métodos de ensino eram a palmatória, a canada e a
bofetada.
Quem não se lembra da
sabatina de tabuada? O colega que falhasse ou não soubesse, era reprimido pelo
que acertasse.
Embora fome
propriamente dita não existia, mas eram tempos em que se distinguia o comer do
domingo do resto dos dias da semana.
Volta e meia, eramos
presenteados com umas colheradas de óleo de fígado de bacalhau, e de longe-a-longe
íamos ao quartel ver filmes (como O Chaimite), baseado na prisão do célebre
Gungunhana e no final havia rancho (que é uma sopa à base de massa e grão de
bico).
Frasco de óleo de fígado de bacalhau. |
No intervalo das aulas,
brincávamos ao eixo, ao pião, à bola, ao chimpas com os cromos dos jogadores da
bola, etc..
Por incrível que
pareça, não me recordo do nome desta professora, pelo que apelo aos amigos que
saibam, o favor de o mencionar. Sei que apenas esteve em Penafiel este ano
lectivo de 1957 / 1958, e que habitou na casa da Dona Maria Teresa, na Praça
Municipal em Penafiel. As aulas eram da parte de manhã, mas ela à tarde dava gratuitamente
explicações aos que tinham mais dificuldade na aprendizagem.
Uns vinham a pé da
Aveleda para a escola quer chovesse ou fizesse sol. Estou a falar destes
amigos, porque eles traziam para comer nogões (noz graúda), que a malta da
cidade trocava por sandes de marmelada.
Nesta turma de muitos
alunos, apenas reconheço seis que prosseguiram os estudos na Escola Industrial
de Penafiel.
Foto tirada no recreio |
Um deles é o nosso
amigo Carlos Couto, que pouca gente o reconhecerá nas fotos, os outros sou eu
Fernando Oliveira, o Carlos Graciano, o Rui Américo, o José Pinto da Aveleda, e
o José Carlos.
Muitos já partiram
deste mundo, mas para todos eles, vou brindá-los com um extracto do poema
“Companheiros da Juventude” de José Fanha que irá sair no livro ainda a publica
Cancioneiro Feliz.
…. …. …. ….
Compartilham
agora
os
arrepios dos ossos
e
um eco de viagens
e
naufrágios no funil do tempo.
Recordam
torres batalhas e fogueiras.
Declinam
nebulosas.
Querem
ouvir um cântico de espuma
na
raiz da palavra. Perguntam:
Por
onde foste? Onde estás? Que caminhos
rasgaram
teus pés?
Diz-me
por favor que viraste costas
ao
comércio mesquinho das cidades
e
que deixaste uma promessa de rosas
no
rasto dos teus passos.
Medem-se.
Abraçam-se. Teimosos
continuam
a causar pequenas tempestades
em
busca da resposta
para
a única pergunta
que
ninguém sabe fazer.
José
Fanha
Para todos vós, e para
a nossa professora, aqui vai o meu abraço de amizade, e um até sempre.
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