FILARMÓNICA FRAUDE
FILARMÓNICA FRAUDE
Na época
em que o nacional cançonetismo tomava conta das rádios, e o yé yé, dava os seus
primeiros passos, eis que aparece a Filarmónica Fraude a tocar de maneira
diferente, podendo mesmo dizer que com esta banda, nasceu o “Country Português".
Oriunda do
eixo Entroncamento – Tomar, a banda, era composta por seis jovens estudantes,
Luís Linhares nas teclas, Antunes da Silva na guitarra, José João Parracho no
baixo, júlio Patrocínio na bateria e João José Brito na voz.
A Filarmónica
Fraude, assim como quase todos os conjuntos da época, teve uma carreira efémera
(durou apenas um ano), com os seus elementos a braços com o serviço militar
obrigatório que mutilava qualquer projeto com longo prazo.
Começam por tocar (corria o Verão de 68) nas
instalações da Torralta, no Alvor, onde foram descobertos pelo saudoso
jornalista Fernando Assis Pacheco e pelo Duo Ouro Negro.
O primeiro escreveu uma crónica elogiosa no Diário de
Lisboa intitulada "Uma Fraude nas noites brancas do Alvor".
Os segundos levaram uma cassete com alguns temas à
editora Valentim de Carvalho que lhes faculta a gravação de algumas maquetas
das canções.
CAPA DO 1.º EP |
No entanto, o grupo acaba por assinar com a Philips,
onde para além do álbum "Epopeia" grava ainda dois EPs em 1969.
O 1º EP, que é a estreia do grupo, contém temas
originais e adaptações da música popular portuguesa, da autoria de António
Pinho e Luís Linhares: "Flor de Laranjeira", "Problema da
Escolha", "O Menino" e "O Milhões". O êxito é imediato
e a crítica é unânime em elogiar o trabalho, classificando a Filarmónica Fraude
como um «caso muito sério e uma pedrada no charco no marasmo da música
portuguesa».
CAPA DO 2.ºEP |
2º EP vinha confirmar tudo quanto se dissera a
respeito do primeiro: "Canção de Embalar", "Orícia",
"Animais de Estimação" e "Devedor à Terra" cimentam a
reputação que o grupo granjeara logo no início da carreira.
CAPA DO LP EPOPEIA |
LP "Epopeia",
cujo alvo principal eram os infortúnios dos descobrimentos e que por isso mesmo
trouxe alguns dissabores junto aos censores da época; a começar logo pela capa
(uma autêntica originalidade na altura, pelo feitio e modo de abrir), da
autoria de Lídia Martinez, que a assinou «Lídia 69». A maqueta da capa não
passou na censura, que obrigou ao corte da indicação do ano.
CONTRA CAPA DO LP EPOPEIA |
A Filarmónica Fraude acaba nos finais de 1970 (sem
editarem mais nenhum disco), dando depois lugar à Banda do Casaco.
Mas a
canção que mais gostei deste grupo, foi sem dúvida de Flor de Laranjeira.
Trata-se
de uma mordaz crítica social, tendo sido proibida de passar, na Emissora
Católica Portuguesa.
Basicamente,
a canção conta a história de uma noiva que já vai grávida para o casamento, e que
pertencia a uma família muito bem - dizia-se assim, quando referindo-se a gente
rica - o casamento foi de espavento e estadão, e as línguas desataram-se nas
bocas pequenas com comentários, levantando poeira no adro da igreja, o que de
acordo com os cânones da sociedade de então, configurava um escândalo difícil
de aceitar.
Para
ouvirem, aqui fica Flor de Laranjeira, pois nunca é uma Fraude, ouvir a Filarmónica…
Bom domingo.
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