27 janeiro 2013

FILARMÓNICA FRAUDE



FILARMÓNICA FRAUDE



Na época em que o nacional cançonetismo tomava conta das rádios, e o yé yé, dava os seus primeiros passos, eis que aparece a Filarmónica Fraude a tocar de maneira diferente, podendo mesmo dizer que com esta banda, nasceu o “Country Português".

Oriunda do eixo Entroncamento – Tomar, a banda, era composta por seis jovens estudantes, Luís Linhares nas teclas, Antunes da Silva na guitarra, José João Parracho no baixo, júlio Patrocínio na bateria e João José Brito na voz.

A Filarmónica Fraude, assim como quase todos os conjuntos da época, teve uma carreira efémera (durou apenas um ano), com os seus elementos a braços com o serviço militar obrigatório que mutilava qualquer projeto com longo prazo.

Começam por tocar (corria o Verão de 68) nas instalações da Torralta, no Alvor, onde foram descobertos pelo saudoso jornalista Fernando Assis Pacheco e pelo Duo Ouro Negro. 

O primeiro escreveu uma crónica elogiosa no Diário de Lisboa intitulada "Uma Fraude nas noites brancas do Alvor". 

Os segundos levaram uma cassete com alguns temas à editora Valentim de Carvalho que lhes faculta a gravação de algumas maquetas das canções. 

CAPA DO 1.º EP
No entanto, o grupo acaba por assinar com a Philips, onde para além do álbum "Epopeia" grava ainda dois EPs em 1969.
O 1º EP, que é a estreia do grupo, contém temas originais e adaptações da música popular portuguesa, da autoria de António Pinho e Luís Linhares: "Flor de Laranjeira", "Problema da Escolha", "O Menino" e "O Milhões". O êxito é imediato e a crítica é unânime em elogiar o trabalho, classificando a Filarmónica Fraude como um «caso muito sério e uma pedrada no charco no marasmo da música portuguesa». 

CAPA DO 2.ºEP
2º EP vinha confirmar tudo quanto se dissera a respeito do primeiro: "Canção de Embalar", "Orícia", "Animais de Estimação" e "Devedor à Terra" cimentam a reputação que o grupo granjeara logo no início da carreira. 

CAPA DO LP EPOPEIA
LP "Epopeia", cujo alvo principal eram os infortúnios dos descobrimentos e que por isso mesmo trouxe alguns dissabores junto aos censores da época; a começar logo pela capa (uma autêntica originalidade na altura, pelo feitio e modo de abrir), da autoria de Lídia Martinez, que a assinou «Lídia 69». A maqueta da capa não passou na censura, que obrigou ao corte da indicação do ano. 

CONTRA CAPA DO LP EPOPEIA
A Filarmónica Fraude acaba nos finais de 1970 (sem editarem mais nenhum disco), dando depois lugar à Banda do Casaco. 

Mas a canção que mais gostei deste grupo, foi sem dúvida de Flor de Laranjeira. 

Trata-se de uma mordaz crítica social, tendo sido proibida de passar, na Emissora Católica Portuguesa.

Basicamente, a canção conta a história de uma noiva que já vai grávida para o casamento, e que pertencia a uma família muito bem - dizia-se assim, quando referindo-se a gente rica - o casamento foi de espavento e estadão, e as línguas desataram-se nas bocas pequenas com comentários, levantando poeira no adro da igreja, o que de acordo com os cânones da sociedade de então, configurava um escândalo difícil de aceitar.

Para ouvirem, aqui fica Flor de Laranjeira, pois nunca é uma Fraude, ouvir a Filarmónica


Bom domingo.