23 outubro 2012

O ABADE DE JAZENTE



O ABADE DE JAZENTE


Paulino António Cabral- Poeta Paulino António Cabral, Abade de Jazente, nasceu na Quinta do Reguengo, na freguesia de S. Pedro da Lomba, a 6 de Maio de 1720, sendo conhecido pela sua poesia sarcástica, crítica da sociedade da época em que viveu. 

Filho de João Cabral Moreira e Ana Cerqueira Pereira, formou-se em Cánones pela Universidade de Coimbra, em 17 de Junho de 1741. Em 1752, foi nomeado abade da freguesia de Jazente, onde viveu 30 anos (até 1783) e donde lhe veio o nome de Abade de Jazente, pelo qual é, geralmente, conhecido. Morreu em 20 de Novembro de 1789, tendo sido sepultado na Igreja de S. Pedro, na cidade de Amarante, por ser irmão da confraria da invocação deste santo. 
A obra legada fornece-nos preciosos depoimentos históricos e também por ela sabemos dos seus prazeres (a caça, a pesca, o jogo, a boa mesa); das suas fraquezas, do seu triste envelhecer, dos seus amores, pois revela-nos episódios concretos de um relacionamento com Nise (anagrama de Inês da Cunha). Os sonetos respeitantes a esta constituem o mais pungente drama de amor do século XVIII português.


Escreveu três sonetos ridicularizando a passagem da Vila Arrifana de Sousa, a cidade de Penafiel e um sobre o seu Bispo das Albardas.



Volta, Penafiel, volta contente

Volta, Penafiel, volta contente
Da antiga Mãe ao grémio sacro, e agora
Não te separes dela, como a Aurora
Se não sabe apartar do Sol Luzente.

Volta a beijar-lhe a mão, e obediente
No materno regaço outra vez mora;
Porque a filha, que dele se sai fora,
Não torna, como tu, sempre inocente.

Tu mesma abonas hoje esta vaidade;
Pois bem que ilesa vens, vens mais ufana
Por vir trajada em forma de Cidade.

Ninguém te contradiz: mas desengana
Esses novos adornos da vaidade
Com os outros antigos de Arrifana.



 Enfim, Penafiel, do teu Bispado

Enfim, Penafiel, do teu Bispado
Despojada te vês: tem paciência;
Que tudo o que acontece é consequência
Do sistema, em que o mundo está fundado.

Ele mudável é, e contra o fado
Não vale dos mortais a diligência;
Pois só pode fazer-lhe resistência
No mudo sofrimento um desgraçado.

Encolhe os ombros pois; e sem vaidade
Depõe a pompa, que te fez ufana
Na fugitiva luz da claridade

Pouco tempo a lograste, e se te engana
Inda o título novo de Cidade,
Recorda o nome antigo de Arrifana.


Agora sim, agora sem vaidade

Agora sim, agora sem vaidade
Podes alçar, Penafiel, a frente;
Pois já com nome novo, e florescente
Passas de Vila aos foros de Cidade.

Do teu novo esplendor na claridade
Lisonjear te podes, e contente
Ostentar sem rubor do mundo à gente
A antiga feira, a nova Dignidade.

Agora sim (se acaso não receias
Desperdiçar os timbres, que ainda guardas,
Dos edifícios teus sobre as ameias).

Agora podes nas paredes pardas
Meter por luminárias as candeias,
Estender por bandeiras as albardas.

Sobre o seu Bispo Frei Inácio de S. Caetano

"Dom Frei Inácio, e albardeiro,
Por mercê de Sebastião Marquês de Pombal
A todo o amado súbdito em geral,
Saúde, e bênção de Deus, que é verdadeiro.

Constou-nos por um nosso alcoviteiro,
Que em todo o nosso Bispado, e em Portugal,
Da dita personagem se diz mal,
Em toda a casa, na praça, e no outeiro.

Mandamos porém por santa obediência,
A todas estas boas e más fardas,
Não falem mais de sua Excelência,

Porque como Ele se vê em calças pardas,
Goza nossa protecção, e clemência,
Dom Fr. Inácio, Bispo das Albardas.


Passados 242 anos da elevação da Vila Arrifana de Sousa a Cidade de Penafiel, nunca pensei que o Abade de Jazente, tivesse nesta terra tantos acólitos.

4 Comments:

Blogger Fernando Beça Moreira said...

Neste caso Penafiel não vai voltar a ser Arrifana de Sousa. A nossa cidade é Penafiel e assim continuará a ser. Não sou dos que tremem quando se fala de Arrifana de Sousa, porque foi algo que foi nosso. Não é um retrocesso. Não é um voltar para trás.
Nós, penafidelenses da cidade, nunca sentimos a cidade como uma freguesia, sentímo-la como aquilo que ela é. A NOSSA CIDADE DE PENAFIEL.

Um abraço
Beça Moreira

9:51 da tarde  
Blogger Fernando Oliveira said...

Amigo Beça Moreira
Nós estamos a falar de freguesias e não de cidades. Muito mais grave que os nomes é que esta Arrifana de Sousa está a ser formada, com extinções de freguesias, para serem anexadas numa só contra a vontade das suas gentes, fazendo-me lembrar uma era "colonial".
Porque não se fez um referendo?
Mesmo assim, ainda tenho esperança que esta reforma administrativa aborte.
Embora respeite a tua opinião.
Um abraço
F. Oliveira

6:24 da tarde  
Blogger Fernando Beça Moreira said...

Vamos lá ver. Tens toda a razão quando falas num referendo. As pessoas devem ser ouvidas. A mim o que me incomoda é ver e saber que houve presidentes de junta de freguesias que irão ser agregadas, terem votado a favor da extinção. Por aquilo que ouço falar é que a extinção de freguesias não traz benefícios a ninguém.
O que eu sou contra é a extinção da freguesia de Novelas. Novelas e Santiago ficavam muito bem juntas. Novelas é uma freguesia muito importante e merece a autonomia que tem actualmente. Quanto às freguesias de Milhundos, Santa Marta e Marecos, penso que não é grave terem de ficar agregadas a Penafiel. Porque repara a Papelaria Académica fica em Milhundos. A Escola Joaquim Araújo está ali em baixo em Marecos. Santa Marta é ali atrás do Sameiro.
É evidente que se houver referendo eu voto contra a mudança de nome de Penafiel para Arrifana de Sousa. Voto contra. Mas se o sim vencer não me incomoda nada.
Eu já fui acérrimo defensor da extinção de muitas freguesias neste país. Mas já não estou tão certo que isso favoreça as populações...

Um abraço
Beça Moreira

10:12 da tarde  
Blogger Fernando Oliveira said...

Amigo Beça Moreira
Também não compreendo quando presidentes de junta votam a favor da extinção da mesma, quando foram eleitos para trabalharem e defenderem a sua freguesia. Quanto a Novelas se unir a Santiago ou Santa Marta a Croca e muitas outras talvez fossem uniões mais naturais, mas mesmo assim só depois de consultadas as populações.
Um abraço
F. Oliveira

11:56 da tarde  

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