O NAMORO
O símbolo por excelência do amor é o coração. Por isso quem percorre os jardins da cidade, ainda encontra gravadas nas árvores a talhe de canivete corações e o nome da rapariga mais o nome do rapaz, como que, a dar a conhecer o amor de ambos ao mundo.
Antigamente o namoro procurava recantos da cidade a puxar ao romantismo como sejam os jardins públicos. Hoje, como grandes espaços dos mesmos estão tomados por toxicodependentes o namoro refugiou-se nos cafés, nos cinemas ou até sem respeito pelos outros que vão à sua vida nos passeios da cidade.
Com o tempo, certos emblemas do amor caíram em desuso, como é o caso dos lenços de namorados. As moças bordavam simbolicamente corações, pombas, flores e também frases carinhosas como: “Amor quando te vejo o meu coração “, e ofereciam como verdadeira declaração ou aceitação de namoro. À dádiva dos lenços apareceram algumas canções como estas:
O lencinho que bordaste
Tem dois corações ao meio
Olha, amor, já te alembras
Donde este lenço me veio
Outro símbolo de carácter amoroso era a janela da casa da amada
Menina estás à janela
Com o teu cabelo à lua
Não me vou daqui embora
Sem levar uma prenda tua
Eu hei-de ir à tua rua
Saltar à tua janela
Só pra ver a tua cama
Se cabemos, amor nela.
As penas que vulgarmente se usavam nos chapéus, como enfeite, nas canções amorosas sugerem paixões, senão vejamos:
A pena com que te escrevo
Não na tirei ao pavão
A tinta sai-me dos olhos
A pena do coração.
Uma declaração de amor expressa em réplica dos 10 mandamentos e publicada na Revista Brigantia diz o seguinte:
1º - É amar a Deus sobre tudo quanto há
Eu a Deus amo no céu, e a ti amo-te cá.
2º - É não jurar, o seu santo nome em vão.
Eu cá fiz uma jura que foi dar-te a minha mão.
3º - É guardar, domingos e dias santos.
Eu bem o tenho guardado. Por causa dos teus encantos
4º - É honrar, nosso pai e nossa mãe.
Eu bem os tenho honrado, mas honro-te a ti também
5º - É não matar. Eu nunca matei ninguém.
Mas matava se pudesse saudades que o peito tem
6º - É não furtar. Não roubei nada a ninguém
Mas roubava-te se pudesse ao teu pai e à tua mãe
7º - É guardar castidade. Eu, bem castigado tenho sido.
Por causa dos teus encantos, trago o meu sono perdido
8º - É não levantar testemunhos inesperados
Eu nunca os levantei, nem aos meus doces amados
9º - É não desejar, a mulher do semelhante.
Quem vem aqui por te ver, já te tem amor bastante
10º - É não cobiçar. Nunca cobicei nada a ninguém
Só desejava cobiçar-te, ao teu pai e tua mãe
Estes Dez Mandamentos
Em dois se vão encerrar
Convém saber amar a Deus
Mas a ti hei-de-te amar.
Embora se diga que “casamento e mortalha no céu se talha”, ainda hoje muitas das vezes são os pais que talham a sorte dos filhos na escolha do casamento, em especial para as filhas. Por isso é que os pais guardam as filhas como recomenda o cancioneiro minhoto: Ó ferreiro guarda a filha / Não a ponhas à janela / Anda aí um sujeitinho / Que não tira os olhos dela …. Ó ferreiro guarda a filha / Não a ponhas ao postigo / Anda aí um rapazinho / Que a quer levar consigo.
A noiva que tivesse relações sexuais antes do casamento, não merecia o ramo no dia da boda. Hoje para não se rir o sujo do lavado levam-no todas e pronto. É que também neste caso a nódoa era só para a rapariga. Para contradizer esta teoria, o movimento hippie nos anos 60, para além do slogan “Faça amor, não guerra”, tinha outro muito castiço em defesa do amor livre que dizia assim: “A virgindade provoca o cancro, vacine-se”.
Em forma de despedida, vou lembrar o verdadeiro hino ao namoro escrito pelo poeta angolano Viriato da Cruz, que reza assim:
Mandei-lhe uma carta em papel perfumado
E com letra bonita eu disse, ela tinha
Um sorriso luminoso tão triste e gaiato
Como o sol de Novembro brincando de artista
Nas acácias floridas, na fímbria do mar
Mandei-lhe um cartão
Que o amigo Martinho tipografou
"Por ti sofre o meu coração"
Num canto "sim", noutro canto "não"
E ela o canto do não dobrou
Pedindo e rogando de joelhos no chão
Pela senhora do Cabo, pela Santa Efigénia
Me desse a ventura do seu namoro
E ela disse que não
Mandei a Vó Xica, quimbanda de fama
Areia de marca que o seu pé deixou
Para que fizesse um feitiço e seguro
E dele nascesse um amor como o meu
E o feitiço falhou
.... .... .... .... .... .... .... .... ....
Para me distrair levaram-me ao baile
Do Sr. Januário, mas ela lá estava
Num canto a rir, contando o meu caso
Às moças mais lindas do bairro operário
Tocaram a rumba e dancei com ela
E num passo maluco voámos na sala
Qual uma estrela riscando o céu
E a malta gritou: "Aí Benjamim!".
Olhei-a nos olhos, sorriu para mim
Pedi-lhe um beijo, la la la la la
E ela disse que sim
E ela disse que sim.
E a malta gritou... Aí Benjamim!...
E acrescento eu... - E valha-lhes S. Valentim!...
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