OS LENÇOS DE NAMORADOS
OS LENÇOS DE NAMORADOS
As moças eram predestinadas na sociedade de então, para os trabalhos domésticos e do campo. Assim, uma das funções que a miúda quando atingia a adolescência procurava aprender, era a bordar para assim preparar o seu enxoval.
Quando já se dominava razoavelmente a agulha e o dedal, a rapariga apaixonada bordava um lenço exprimindo nele sentimentos amorosos que lhe iam na alma.
Terminado o lenço a rapariga oferecia-o somente ao rapaz que amava como compromisso de amor, o qual era exibido pelo moço, no bolso do casaco do fato domingueiro. Seria por assim dizer uma declaração de amor feito pela bordadeira ao seu futuro marido.
Nas romarias muitos rapazes tiravam o lenço às raparigas simulando uma ligação amorosa. Se o rapaz já era comprometido este acto muitas vezes era motivo de desavença entre a sua namorada e aquela a quem o lenço tinha sido roubado.
Ora acontece, que isto de namoro também tinha a sua ética, pois caso o namorado trocasse de parceira, fazia chegar à sua antiga pretendida o lenço acompanhado de todos os objectos que dela possuía como sejam fotografias e cartas entre outros.
Mais tarde começam a aparecer outro tipo de lenços com a finalidade de o oferecer ao seu namorado que ia emigrar (geralmente para o Brasil), para que este lá longe nunca se esquecesse da sua amada. É deste tipo de lenços, que passo a transcrever os quatro versos bordados, cada um no seu canto do lenço ilustrado com desenhos a condizer que me passou pela mão:
Bai carta feliz buando
Nas asas dum passarinho
Cuando bires o meu amor
Dale um abraço e um veijinho
Nas asas dum passarinho
Cuando bires o meu amor
Dale um abraço e um veijinho
Meu Zé bai pró Brazil
Eu também bou no bapor
Gardado no coração
Daquele qué meu amor
Eu também bou no bapor
Gardado no coração
Daquele qué meu amor
Coração por coração
Amor não troques o meu
Olha que o meu coração
Sempre foi lial ó teu
Amor não troques o meu
Olha que o meu coração
Sempre foi lial ó teu
Aqui tens meu coração
E a chabe pró abrir
Num tenho mais que te dar
Nem tu mais que me pedir
E a chabe pró abrir
Num tenho mais que te dar
Nem tu mais que me pedir
Nos tempos que correm, os lenços de namorados viraram artesanato, e hoje quem os adquire ou é para recordar tempos que já lá vão, ou para ornamentar qualquer parede no lar.
As novas gerações que se alimentam nos Mc Donad’s, e dominam na perfeição as novas tecnologias, podem achar que uma mensagem enviada do seu telélé faz o mesmo efeito que um lenço, com a vantagem de ser mais rápido e menos trabalhoso.
Se em parte isto que acabo de escrever é verdade, duvido que estas mensagens por mais inspiração que tenham, virem algum dia em artesanato.
No entanto, há algo em comum que persiste nestes dois modos de exprimir e transmitir o que lhes dita o coração para a pessoa amada, que são os erros ortográficos.
E vá lá a malta saber porquê?
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