22 abril 2023

O MENINO E O CRAVO

O MENINO E O CRAVO

 


Segundo a minha opinião, o cartaz mais bonito do 25 de Abril, está materializado na foto do menino e o cravo, de autoria de Sérgio Guimarães.

 

Pedro Bandeira Freire


O menino, é Diogo Bandeira Freire, filho do letrista Pedro Bandeira Freire, foi fundador da livraria Opinião, autor de canções como "Ternura dos quarenta" e "Minha quinta sinfonia", cantadas por Paco Bandeira, e entre outras coisas, foi actor no filme português " A Crónica dos Bons Malandros" e proprietário do cinema Quarteto que foi inaugurado a 21 de Novembro de 1975.


A fotografia foi tirada no aeroporto da Portela, hoje Humberto Delgado, onde o autor pediu a três soldados um de cada ramo das forças armadas (exército, marinha e força aérea), que segurassem a arma, uma G3, para o efeito.

 

Diogo Bandeira Freire
 

Embora dê a sensação que o menino está a colocar o cravo na arma, segundo contou o fotógrafo Sérgio Guimarães, o menino está a tentar tirar o cravo e não a colocá-lo. Primeiramente foi tentada a fotografia com o menino a colocar o cravo mas a mesma saía tremida, já que o miúdo não chegava ao tapa chamas da G3, pelo que a solução foi a que atrás foi descrita.

 

Sérgio Guimarães

Sérgio Guimarães era natural do Porto, mas cedo rumou para Lisboa onde trabalhou com o empresário Vasco Morgado, o dos teatros, e parava muito pelo Parque Mayer. Mas sobretudo adorava o café-restaurante Monte Carlo, no Saldanha, onde reclamava quase sempre o bife.


O fotógrafo Sérgio Guimarães, orgulhava-se de ser filiado no Partido Comunista e, quando viveu em Paris nos anos sessenta, trabalhou para a revista Elle, e aí frequentou o atelier de Fernand Léger.


Fotógrafo, sobretudo de publicidade, mas também fez outras fotografias com outros destinos, nomeadamente para certos livros que editou - As Paredes da Revolução, Diário de uma Revolução, O 25 de Abril visto pelas crianças.

 


Diogo, o menino do cravo na metralhadora G3, tornava-se num dos símbolos do 25 de Abril.

A imagem da criança de três anos de caracóis louros, esticada, a silenciar com a flor símbolo da liberdade a arma da repressão, correu Portugal de lés-a-lés. 

 



Mas passados 49 anos da dita “Revolução” dos Cravos, vou copiar um texto escrito em 1871, que qualquer semelhança com a realidade do país é pura coincidência. Já me estava a esquecer do seu autor que dá pelo nome de Eça de Queiroz.


ASSIM VAI PORTUGAL..

«O país perdeu a inteligência e a consciência moral.

Os costumes estão dissolvidos, as consciências em debandada, os carácteres corrompidos.

A prática da vida tem por única direcção a conveniência.

Não há princípio que não seja desmentido.

Não há instituição que não seja escarnecida.

Ninguém se respeita.

Não há nenhuma solidariedade entre os cidadãos.

Ninguém crê na honestidade dos homens públicos.

Alguns agiotas felizes exploram.

A classe média abate-se progressivamente na imbecilidade e na inércia.

O povo está na miséria.

Os serviços públicos são abandonados a uma rotina dormente.

O Estado é considerado na sua acção fiscal como um ladrão e tratado como um inimigo.

A certeza deste rebaixamento invadiu todas as consciências.

Diz-se por toda a parte: o país está perdido!»




Apesar de chegarmos onde chegamos como país, sou daqueles que não culpo Abril, mas sim os “democratas” que deram à costa, em Novembro ou noutro qualquer mês.




José Mário Branco cantou

«Quando a nossa festa s'estragou
e o mês de Novembro se vingou
eu olhei p'ra ti
e então entendi
foi um sonho lindo que acabou
houve aqui alguém que se enganou
»




Apesar das voltas que o mundo dá, e dos corruptos que nos saem na rifa das eleições, continuo a dizer:

- Viva o 25 de Abril!

 

Fernando Oliveira - Furriel de Junho