01 abril 2023

A PÁSCOA JÁ NÃO É O QUE ERA

A PÁSCOA 

JÁ NÃO É O QUE ERA




Vou começar por falar da Quaresma, que é um período de 40 dias que começa na Quarta-feira de Cinzas e se estende até ao Domingo de Páscoa.




No Domingo de Ramos que se reflete sobre os últimos momentos da vida de Jesus Cristo, celebra-se com a Bênção dos Ramos, que no antigamente eram apenas compostos por ramos de oliveira e alecrim, que os afilhados vão levar aos padrinhos e estes de uma maneira geral lhe oferecem o folar, que tanto pode vir em amêndoas, pão de ló, roupa, ou uma quantia em dinheiro. 

 


Muita desta doçaria que actualmente aparece em qualquer mês do ano, nem sempre foi assim. Vejam este anúncio publicado no jornal local "O Tempo" de 1947, em que o governo determinava que só era autorizada a fabricação do Pão de Ló e do folar por alturas da Páscoa.



Depois entramos na Semana Santa, que faz parte da Quaresma, que é por assim dizer um tempo de recolhimento e reflexão, meditação e de espiritualidade dos cristãos.

Na Quinta-feira Santa onde se comemora a Ceia do Senhor no Cenáculo, juntamente com os apóstolos.

Sou do tempo em que na Quinta-Feira Santa, depois das 15 horas, as rádios pois na altura não havia televisão, deixavam de transmitir música, até ao Sábado Aleluia.

Já na Sexta-Feira Santa, reflete-se acerca da morte de Jesus e o preço da salvação, e à noite pelas ruas da cidade realiza-se a Procissão do Enterro do Senhor com uma pequena paragem nas capelas do Senhor dos Passos espalhadas pela urbe.




No Sábado dava-se a queima do Judas, organizada pelo Sr. Laurindo do quiosque que ficava junto à Igreja das Freiras. Depois de lido o testamento do Judas “Judas a quem deixas o dinheiro” e por aí fora até lhe ser chegado o lume e este ir ardendo e arrebentando as bombas colocadas por várias partes do corpo, até dar o triste pio com uma explosão mais forte quando o fogo chegava à sua cabeça. Depois batíamos palmas, pois vingávamos a sua traição a Cristo.

Nas padarias e com a massa de regueifa são confeccionadas em forma de galinhas pequenas, algumas com um ovo no interior chamadas as pitinhas da Páscoa. O ovo sempre simbolizou a fertilidade, fecundidade, no fundo, a criação.

Como tal, se antes da Cristandade as ofertas de ovos simbolizava a festa da fertilidade, trazida pela Primavera, depois de Cristo, os ovos simbolizam a sua ressurreição.

No Domingo de Páscoa mal rompia o dia, era o repenicar dos sinos em todas as igrejas a anunciar a boa nova de Cristo Ressuscitado.




Nesses tempos idos o Compasso trazia sempre padre, e mais tarde com novos arruamentos e o aumento substancial do número de casas na cidade, a Visita Pascal começou por incorporar seminaristas e actualmente é formado apenas por leigos e até com elementos femininos.



O Compasso é, em definitivo, a Cruz litúrgica que preside e acompanha os ritos cristãos. Daí que em todas as paróquias ou freguesias subsista ainda o «Juiz da Cruz» que deve empunhar solenemente a «Cruz Paroquial» nas grandes cerimónias da Igreja.

Hoje, devido ao Covid, o beijo na Cruz de Jesus Cristo adornada, como emblema da Fé, foi substituído por uma singela vénia para não se propagar o maldito vírus. 

 


Na foto vemos o sr. Amadeu de chapéu

Voltando a Penafiel, vemos que se estão a perder algumas tradições. Assim, a Rua do Paço, quando aí funcionava o Colégio do Carmo, O Sr. Amadeu, o Sr. Joaquim a a Sr.ª Rosa que tratavam da horta que abastecia a cozinha para as refeições tanto de professores como de alunos internos, no Domingo de Páscoa cobriam a rua com hera arrancada nos muros que cercavam a quinta na véspera.




Depois havia banda de música a percorrer a cidade e quando a Cruz chegava à Av. Zeferino de Oliveira havia foguetório.

Também era costume acompanhar o Compasso até ao vizinho e pessoalmente acompanhado pelo meu pai ir beijar a Cruz à cadeia, assim como no fim do almoço ir ver a chegada do Compasso ao quartel dos Bombeiros Voluntários de Penafiel, que nessa altura ficava na Av. Sacadura Cabral.

As pessoas que compunham os compassos que percorriam a cidade, na hora do almoço, dividiam-se, indo uns almoçar na casa da Dona Maria Teresa e outros na Pensão Aires.




No final do dia, as cruzes tal como hoje, juntavam-se na Igreja do Carmo, e subiam em procissão ao som das campainhas a Rua do Carmo até à Igreja Matriz onde se realiza a última Missa do Domingo de Páscoa.

Hoje tudo isto não passam de meras lembranças, que com o peso dos anos já não consigo acompanhar as modas de ir de férias neste período Pascal, pois continuo a abrir a porta e receber a Visita Pascal do Compasso, embora subscreva o que me diz uma amiga minha:

- A Páscoa!... já não é o que era.


Mesmo assim, desejo a todos que por aqui passam, uma Santa e Feliz Páscoa.


Fernando Oliveira – Furriel de Junho