10 junho 2020

QUANDO A TROPA DAVA VIDA À CIDADE

QUANDO A TROPA
DAVA VIDA À CIDADE



Milhares de homens passaram pelo quartel militar de Penafiel.

Não só davam vida à cidade como interagiam com ela.

Para além da instrução militar que lhes era dada, desenvolviam paralelamente outras actividades culturais.


Em tempos que já lá vão, mal vinha o Verão, nas tardes de domingo davam concertos musicais no coreto construído no jardim público Egas Moniz, aos penafidelenses.

Também criaram uma companhia de teatro que baptizaram de “Marte”, para a qual foram recrutadas algumas meninas na urbe para o elenco, pois nessa altura a tropa era só para homens.

O Sport Club de Penafiel, também teve colaboração musical a quando da formação da sua Orquestra Jazz Albardófila de alguns militares músicos.

Muitas donzelas casaram com militares que por aí passaram, e no tempo em que os batalhões partiam e regressavam da Guerra Colonial muitas meninas eram convidadas a serem madrinhas de guerra.

Jorge Sena, escritor português, passou também por cá em 1941, retratando a sua passagem por este quartel no seu livro “Os Grão-Capitães”, no capítulo “ As Ites e o Regulamento”.

O 2.º Comandante do CICA 1, Tenente Coronel Olavo Rocha, elaborou a História do Quartel de Penafiel, que publicou em crónicas na revista do próprio quartel “O Calhambeque”. 

 

Para a miudagem da época, que hoje deve rondar os 70 anos de idade, era uma alegria ver a Fanfarra que todas as quintas-feiras percorria as ruas da cidade até à Praça Municipal, onde tocava virada para o Monumento ao Mortos da Grande Guerra, regressando de seguida ao quartel.

Sendo Maio, por excelência o mês das Novenas a Maria, devido à primeira aparição da Virgem em Fátima aos pastorinhos, se ter dado a 13 de Maio.

Até nestas coisas os militares faziam questão de participar e colaborar com a cidade de Penafiel.



Estávamos no ano de 1956, e na Igreja do Calvário, junto ao altar de Nossa Senhora da Conceição, durante o mês de Maio decorriam as novenas de Maria, que tinham o condão de atrair muitos fiéis.

As novenas eram presididas pelo Padre Superior Reverendo Nascimento Fontes, auxiliado por Frei José Martinho e Frei Manuel Guimarães.



Abrilhantavam estas cerimónias religiosas, ao órgão a Sr.ª Dona Otília Mendes Leal e um grupo coral formado por elementos do Regimento de Artilharia Ligeira N.º 5 (R.A.L. 5), orientados pelo padre Franciscano, Reverendo Polidório de Oliveira.

O grupo de militares vindos do RAL 5, que fizeram parte do coro que animavam com a perfeita afinação das suas vozes estas novenas, e que eram alvo dos maiores elogios eram os seguintes:



Manuel Silva, Luís de Sousa, Júlio Alexandre Alves Ferreira, Constantino Costeira, Gonçalo Amorim Varejão, José Fernandes, Joaquim Alberto de Oliveira de Sousa, Júlio Gomes de Sousa Varejão, José Faria Tenedorio, Manuel João P. da Silva, Emílio Pereira, Manuel Moreira Pinto, José P. Araújo, Manuel José Sérgio, Nestor Rio Tinto Costa, Joaquim de Matos Alves, Albino Lourenço Fernandes, Luís Barros Esteves, Domingos Dias Meira, Jorge Fernandes de Sousa, António Rodrigues da Fonseca, José Loureiro Pinto, Manuel Marinho, António S. Ribeiro, Arménio Gouveia e António Lopes das Neves, soldado do RAL 5 que prendia a atenção de todos durante os seus solos, tão apreciados pela assistência.

E pronto, aqui fica relatada mais uma intervenção dos militares na vida desta cidade, que muitos penafidelenses por certo desconheciam.

Hoje, nas velhas calçadas da cidade de Penafiel, já não vemos “magalas”, mas pavoneia-se outra “tropa”, que apenas trata da sua vidinha, destruindo por vezes o nosso passado, desrespeitando os nossos melhores filhos que deram a vida pela pátria, e ainda nos dizem com aquele ar de entendidos, que tudo isto é feito em prol de um tal progresso... do deles é claro.

Fernando Oliveira – Furriel de Junho