01 junho 2020

LOAS

LOAS
NOSSA SENHORA DA SAÚDE
 


No meio do verde de montes e campos, lá está imponente o mosteiro e o convento Beneditino. Já lá vão os tempos em que os cânticos gregorianos dos monges faziam eco nas penedias.

Se o patrono é S. Miguel o que lhe dá fama, é sem dúvida a Nossa Senhora da Saúde.


Segunda-feira a seguir ao Domingo de Páscoa a cidade de Penafiel, fecha as suas portas e lá vai com o seu farnel, muita das vezes feito das sobras do dia anterior rumo a Bustelo.

O que hoje se faz geralmente de carro, em tempos que já lá vão, as camionetas da firma Alberto Pinto num vai bem constante lá iam transportando pessoal de Penafiel, para a festa da Senhora da Saúde em Bustelo.


Os pagadores de promessas fazem este percurso a pé. É nesta condição que aparecem as novenas. São pessoas em número de cinco, sete ou nove entrelaçadas umas ás outras pelos braços, entoando loas à Senhora da Saúde, enquanto caminham.

Com o aparecimento da televisão, não só cada vez se vê menos novenas, pois é mais fácil ver uma telenovela do que transmitir esta cultura popular como era apanágio nos velhos serãos, de geração a geração.

Hoje tanto a cidade como a aldeia mais remota estão a ser standarizada e absorvida pelos meios de “progresso”, que pouco preserva de seu, culturalmente falando.

A última novena que vi, já lá vão mais de trinta anos, era formada por moças da freguesia de Duas Igrejas, do concelho de Penafiel.

Eis alguns versos cantados por elas:

Nossa Senhora da Saúde
Livrai os homens da guerra (bis)
Nós somos de Duas Igrejas
Viva, viva a nossa terra (bis)

Nossa Senhora da Saúde
Vota fitas a voar (bis)
Vota uma, vota duas
Todas vão cair ao mar (bis)

Nossa Senhora da Saúde
Nós já fomos e viemos (bis)
Vimos vos pedir perdão
Dos pecados que fizemos (bis)

Nossa Senhora da Saúde
As costas vos vou virar (bis)
Dai-me vida e saúde
Para o ano cá voltar (bis)

Nossa Senhora da Saúde
Nós cá estamos a chegar (bis)
Deite o arroz p'rá caçarola
Sopa seca pró alguidar

Nossa Senhora da Saúde
Eu pró ano lá hei-de ir (bis)
Ou casada ou solteira
Ou criada de servir (bis)



Foi esta última quadra que me chamou atenção, pois ouvi-a na Galiza apenas modificando o 1.º verso ficando assim:

Orense que és da raia”
Eu pró ano lá hei-de ir (bis)
Ou casada ou solteira
Ou criada de servir (bis)

Daí ter concluído que o povo acomoda a letra a qualquer santo ou santinha ou terra que vão visitar.

- Será que estes cânticos foram trazidos pelos romanos no período da romanização até nós?

Mas outra hipótese se me levanta na mente se não seriam os peregrinos que calcorreando os Caminhos de Santiago até Compostela os foram transmitindo de pais para filhos a netos até aos nossos dias.

Destas maneiras ou de outras, é caso para dizer:

Se todos os caminhos vão dar a Roma ou a Santiago, também não é menos verdade, que todos os caminhos vão dar à nossa terra, assim como estas Loas.


Fernando Oliveira – Furriel de Julho

2 Comments:

Blogger zegino said...

Se a referência às moçoilas da última novena baseia-se na foto, há um equívoco. Eram todas do lugar de Aperrela,freguesia de Penafiel.

12:00 da tarde  
Blogger Fernando Oliveira said...

Esta foto não é referente à novena que retrato no texto, mas foi só para o ilustrar o mesmo.

9:24 da manhã  

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