01 março 2020

O PATRONATO

O PATRONATO
DA SAGRADA FAMÍLIA



Em Dezembro de 1942, a Ex.ma Senhora D.na Margarida Pinto Lopes Amorim e as suas irmãs D.na Maria do Carmo e D.na Laurinda, compraram o edifício da Rua Direita, N.º 87, na cidade de Penafiel, para aí construir o Patronato, com a finalidade de acolher raparigas abandonadas.

D.na Maria Teresa de Vasconcelos, dedicou-se de alma e coração à obra, sendo desde a primeira hora a sua digníssima Directora.  

A 3 de Maio de 1943, nasceu o Patronato da Sagrada Família. 



Com o decorrer do tempo, logo se verificou que o espaço se estava a tornar pequeno, e como tal, começou-se a pensar no alargamento do mesmo para o lado da Igreja Matriz.

Assim foram adquiridas duas pequenas habitações aí existentes, mas todos tinham a noção que só com a ajuda do governo central a obra se tornaria realidade.

Aproveitando a vinda a Penafiel, do Governador Civil do Porto, Dr. Jorge da Fonseca Jorge, D. Maria Teresa endereçou um convite ao mesmo, e outro ao Presidente da Câmara de Penafiel, Coronel Cipriano Alfredo Fontes, para ambos virem almoçar no Patronato, no dia 31 de Dezembro de 1964, os quais foram aceites. 



Para além destes ilustres convidados, também tomaram parte o Rev. Vigário da Vara e Pároco de Penafiel, Albano Ferreira de Almeida, e os membros da Direcção do Patronato, D.na Maria Teresa, Sr. Adriano Alves Barbosa e Manuel Babo, para além das cercas de três centenas de crianças de ambos os sexos.



O almoço foi servido pelas Ex.mas Senhoras D.na Dalila Viana, D.na Isabel Afonso e Igilde Barbosa.

Na cozinha a azáfama era grande, com as louças a serem lavadas para servir novamente, em sucessivas avalanches de miúdos, porque sendo o refeitório de dimensões razoáveis, não era o suficiente para tanta gente. 


Terminado o almoço usaram da palavra para saudar o ilustre visitante, as meninas Maria Emília Campos e Filomena Maria Ferreira Ramalho, que no final receberam uma estrondosa salva de palmas. 



De seguida o Sr. Adriano Alves Barbosa, historiou a fundação da obra, que em sua opinião se deve a um autêntico milagre a que está ligado desde o seu início o nome da grande benemérita e bondosa D.na Sílvia Cardoso, e que os actuais Directores têm continuado, esforçando-se por aumentar, cada vez mais, a acção benemérita e altruísta de evitar que caiam no abismo centenas de jovens que por aquela casa têm passado.

Pediu depois a Sua Excelência o Sr. Governador Civil, para que fosse o intérprete junto das esferas superiores dos anseios da Direcção do Patronato que é o iniciar-se quanto antes as obras que já estão projectadas. (Cá para nós que ninguém nos ouve, isto é o que se chama na gíria popular, lançar o barro à parede).

No final o Dr. Jorge da Fonseca Jorge, num feliz improviso, prometeu interessar-se por tão útil e necessária obra, e agradeceu o bem que se faz aos infelizes que se abeiram do Patronato da Sagrada Família.

Depois de percorrer as precárias divisões do Patronato, rumou à cidade do Porto.


D.na Maria Teresa, desloca-se a Lisboa e consegue assegurar a comparticipação de 75% do custo da obra, ou seja 2.100.000$00, suportada em partes iguais pelo Ministério das Obras Públicas, Ministério da Saúde e Assistência e Fundação Calouste Gulbenkian. 

Os restantes 25% correspondendo ao montante de 700 contos ficaram a cargo do Patronato, o que, como é óbvio, excede em muito os seus magros recursos financeiros. D.na Maria Teresa, lança uma campanha para angariação de fundos, para que o sonho se torne realidade. Desde o sorteio de uma linda toalha de mesa em linho, cujos bilhetes foram colocados à venda nas lojas comerciais da cidade, peditórios em todas as freguesias do concelho, programa de variedades realizadas no Cine-Teatro S. Martinho, cujas receitas se destinavam ás obras do Patronato e cortejo de oferendas.


E como escreveu Fernando Pessoa, no poema "O Infante", Deus quer, o Homem sonha, a obra nasce. 

Mas já que falei em poesia, vou incluir neste texto o poema de autoria de Maria Giselda com o título:

Patronato da Sagrada Família
(ao pobre, ao órfão e à desamparada)

Alegra o rosto teu, oh pobrezinho!
Triste e cansado a procurar guarida!
O pão que te for dado com carinho
Sabe melhor do que a melhor comida.

Não há pobreza onde houver caridade.
Tu não és pobre por não teres pão!
Ainda é mais pobre aquele que a bondade
Nunca lhe perfumou o coração.

Aquela estrela que tu vês além,
É a Sagrada Família, a tua casa.
Tem no seu seio o zêlo de uma mãe.
Tem o calor que a pomba tem na asa.

Olhos no Céu, a boca em oração,
Vai direito, direito a esse altar
E deixa só bater teu coração,
Que as portas logo se abrem par a par.

Oh ente pequenino abandonado!
Oh órfão mal tratado pela desdita!
Não choreis mais o vosso triste fado,
Que é também vossa essa casa bendita.

Desamparada que vives também
Aos encontrões da tua pouca sorte!
Recebes nela o amparo duma mãe,
Verás nela brilhar a estrela Norte.

Obra grandiosa, bela e sublime!
Obra gigante em força de vontade!
Escolheu Deus para ela um pulso firme
Dando-lhe fé, esperança e caridade.

E ao ver o altar que Penafiel tem,
- Porque Jesus não olha ao desbarato -
Logo escreveu no Santo Rol do Bem!
A Sagrada Família, o Patronato.


Nos dias de hoje, a pobreza continua com outras roupagens, e por vezes até envergonhada espreitando o mundo por entre as vidraças da desgraça. 

Há quem diga que isto nos devia fazer corar de vergonha, mas francamente não acredito que alguém core, num país que já perdeu à muito a sua vergonha, embora nos fizessem acreditar que a pobreza ia desaparecer a partir de Abril. Francamente, a única diferença entre o antes e o depois de Abril, é a distância que separa a sopa dos pobres do banco alimentar.

Fernando Oliveira - Furriel de Junho