03 novembro 2019

DOUTRINADOS PARA ENSINAR

DOUTRINADOS PARA ENSINAR



No meu tempo, o ensino era iniciado aos sete anos, com a entrada na escola primária, e aí se fazia a 1.ª, 2.ª, 3.ª, 4.ª classe, e aqueles que queriam continuar os estudos, o exame de admissão ao liceu ou à escola técnica que se dividia em industrial e comercial.

O início do ano escolar era no dia 6 de Outubro e terminava no ano seguinte no mês de Junho ou Julho caso houvessem exames. Entre o início e o final das aulas, intercalavam-se as férias do Natal e da Páscoa, como hoje, com mais ou menos dias.

Escola Conde Ferreira dos rapazes
Sexualmente falando, não havia misturas, pelo que na cidade de Penafiel havia uma escola para os rapazes e outra para meninas. Quando só existia uma escola para ambos os sexos, haviam salas separadas. 

Escola António Pereira de Castro para as meninas

Hoje, as escolas separadas pelo sexo terminaram, e os alunos vão para Centros Escolares, nome pomposo que a democracia encontrou no seu léxico moderno, para o novo estabelecimento de ensino primário.

Palmatória

O ensino era administrado na sua maioria, por professores severos, que ao menor erro, o aluno ficava sujeito a palmatoadas, a reguadas, a canadas e outros mimos que nos dias que correm seriam rotulados no mínimo de maus tratos, ou levado ao extremo de violência escolar.

Por isso, nesses tempos, ir à escola não era sinónimo de alegria, mas por vezes de medo.



Como todos sabemos, o Estado Novo, adoptou como sua a religião católica. Assim nas sala de aulas lá aparecia na parede o crucifixo ladeado pelo retrato do Presidente da República e do Presidente do Conselho de Ministros.

Por tal motivo, no final dos livros de leitura lá apareciam textos referentes à religião cristã.

Do livro da 2.ª classe

Acontece que o professorado que estava preparado para o ensino das letras e dos números, não sabia muito bem como lidar com a doutrina cristã.

Sabendo que em Penafiel se ia realizar um curso de ensino da catequese, entre os dias 22 e 25 de Janeiro de 1956, onde as lições eram dadas no Recreatório Paroquial desta cidade, uma boa dezena de professores primários da região tomou contacto com o Catecismo Nacional, que veio ao encontro de um problema escolar.


Segundo a razão, para o Ministério da Educação, incluir uma aula de moral cristã por semana no ensino, é que não bastava meter na cabeça das crianças muitos conhecimentos, se não fizer desabrochar na alma do educando sentimentos de rectidão e bondade, ou seja: “Educar é instruir para a vida”.

E como a religião, não se deve ensinar como a gramática ou história, já que é uma vida que se vive e não uma teoria que se aprende, dar uma aula de moral, obriga o mestre a ter que descer da inteligência ao coração da criança, levando-a a amar e viver o que lhe é ensinado. Eis a grande dificuldade de um professor ao preparar-se para dar uma aula de moral cristã.

Recreatório Paroquial de Penafiel

No final do curso com a presença do Sr. Bispo do Porto, D. António Ferreira Gomes e o Pároco da freguesia Albano Ferreira de Almeida, foram distribuídos catecismos acompanhados de um guia, que permite aos professores doutrinados para ensinar, levarem mais conhecimentos na sua bagagem, para darem as aulas de moral com muito mais interesse e eficácia, nas suas escolas.

Pela minha parte, o que vos posso dizer, é que essas lições nunca foram dadas, e o ensino da religião estava ao encargo das catequistas, nos bancos da igreja e fora da escola.


E por mais doutrina cristã que se apregoasse nas escolas daquele tempo, a régua e a palmatória actuavam com tanta frequência, que a sala de aulas se tornava num verdadeiro inferno na terra, e o professor num autêntico “diabo” à solta.

Acontece que nos tempos de hoje, pelo que leio e me contam amigos ligados ao ensino, os papéis deste melodrama estão invertidos.

Afinal de contas, quando se exigia o meio termo, passou-se do 8 ao 80, num abrir e fechar de olhos, entre a “ditadura” e a dita “democracia”.


Fernando Oliveira – Furriel de Junho