O QUARTEL DE PENAFIEL
O QUARTEL DE PENAFIEL
Graças ao trabalho
desenvolvido pelo 2.º Comandante do CICA 1, Tenente Coronel Olavo Rocha,
ficamos a conhecer a história do Quartel de Penafiel, escrito em crónicas no órgão
de informação, cultura e recreio do CICA1 “O CALHAMBEQUE”.
Depois das invasões napoleónicas,
Penafiel, começou a ser visto como posto estratégico para a construção de um
quartel. Uma força militar permanente em Penafiel, serviria em tempo de paz,
para gerir a boa ordem nos centros populacionais no raio das suas competências,
e em tempo de guerra, serviria de tampão ao invasor que transponha as
fronteiras de Trás-os-Montes ou Beiras e se dirijam para a cidade do Porto.
Assim, pela sua
configuração geográfica por um lado, e pela situação estratégica por outro,
Penafiel estava predestinada a ser uma fortaleza integrada na segurança da
cidade do Porto.
Em 15 de Setembro de 1862,
o Regimento de Infantaria 6 sediado em Braga, revoltou-se visando a queda do
governo. Três dias após a revolta, o Regimento foi dissolvido e como medida
político-militar foi reorganizado por decreto emanado do Paço, em 5 de Novembro
de 1862, sob o Governo do Visconde de Sá da Bandeira, na cidade de Penafiel. Na
falta de um quartel para o Corpo do RI6 a câmara assumiu o compromisso para
alojar com caracter provisório aquela unidade nas antigas instalações dos
Corregedores que ocupavam parte do terreno designado por Campo da Piedade
(Praça dos Prazeres, Praça do Mercado e actualmente Edifício da Praça).
No dia 15 de Dezembro
de 1862, a câmara celebra um acordo com o Ministério da Guerra para construir
um quartel em Penafiel.
Abre-se uma acesa
polémica entre a câmara e as forças vivas da cidade, sobre a localização do mesmo.
Os três locais
avançados para a construção do quartel, são os seguintes:
1 – A câmara sugere
como sua localização preferida a Praça da Alegria, actualmente ocupada pelo
novo edifício, onde estão os CTT, Repartição de Finanças e Loja do Cidadão.
2 – Edifício e terrenos
pertencentes à Cerca do Recolhimento da Nossa Senhora da Conceição onde foi
erigido o actual quartel.
3 – A Quinta do Faria e
tapada contígua onde se encontra hoje o Jardim Público em frente à Igreja do
Calvário, edifício do Tribunal Judicial de Penafiel, Escola João de Deus, e
edifício do GAT.
A partir da escolha do
terreno (opção - 2), começa-se a pensar seriamente na construção do quartel, em
virtude das instalações provisórias não possuírem as condições indispensáveis
para alojar o efectivo então existente de 250 praças.
O orçamento proposto à
Câmara Municipal pelo Tenente Coronel Francisco Pegado 236.473$00 reis para
aquela construção, foi considerado exorbitante.
A colocação do
Regimento 6 nesta cidade, se é de incalculável interesse para Penafiel, e do
qual depende o seu desenvolvimento, é igualmente de suma vantagem para o
estado. Mas por tão avultada quantia ficavam prejudicados todos os interesses:
os da terra, porque excedem as forças possíveis do município: os do estado,
porque, não se podendo construir o quartel, tem de remover o corpo para outra
parte, onde talvez se não dêem tão favoráveis condições económicas, como
estratégicas e sanitárias.
Sobre este assunto, o
redactor do Jornal “O Século XIX” diz o seguinte:
“Se
a Câmara se interessa pelo Concelho que administra, deve perder a ideia do
empréstimo, que é um grande erro de economia. O empréstimo vai lançar as
finanças da Câmara em perpétua penúria, com elle não poderão fazer mais do que
alguns maus barracões…. Um só recurso leal resta à Câmara que é pedir ao
governo a abrogação do contrato de 15 de Dezembro de 1862; e que o governo por
utilidade pública toma a iniciativa da edificação do quartel permanente
concorrendo a Câmara com o que judiciosamente possa dispensar dos encargos
municipais. Se o governo annue, o concelho prosperará, e se não annue fica a
Câmara sem encargos gravosos – tudo mais são armadilhas sem estabilidade.”
Em consequência das
dificuldades na obtenção de um acordo entre a Câmara e o governo, vai-se
assistir a um empasse de cerca de dois anos.
A 4 de Maio de 1866 o
Presidente da Câmara e o Ministro da Guerra Major José Maria da Serpa Pinto,
celebraram um contrato acordando nas seguintes bases propostas pelo segundo
outorgante:
Que o governo de Sua
Majestade pelo Ministério da Guerra tomava sobre si o encargo da construção e
conservação do quartel para um Corpo de Infantaria permanente nesta cidade….
1.ª Condição: Que a
Câmara Municipal de Penafiel concorrerá para a construção de um Quartel de Infantaria
com um terço da quantia orçada para a obra, isto é com 25.000.000….
2.ª Condição: Que o
governo tomará sobre si o encargo da construção e conservação do Quartel:
3.ª Condição: Que o
governo só se comprometerá a entregar os edifícios que hoje servem de quartel
provisório do Regimento de Infantaria N.º6 à Câmara Municipal quando estiver
concluído o novo quartel.
4.ª Condição: Que estas
condições serão reduzidas a escritura pública.
A Câmara para cumprir a
sua parte deste acordo, faz um empréstimo dos 25.000.000 para a construção do
quartel, só que o mesmo lhe é negado pelo Ministro do Reino Martens.
Perante esta situação,
a 20 de Setembro de 1869, Penafiel assiste à retirada do Regimento 6 para
Guimarães.
No entanto, a 3 de Maio
de 1870, regressa a Penafiel a Ala Direita do RI6. Toda a cidade se veste de
gala e a ponte sobre o Rio Sousa em Novelas está enfeitada de verdes e todos os
penafidelenses se preparavam para receber estes nossos irmãos-soldados. Mas no
dia 28 de Janeiro de 1871, a Ala Direita do RI6 regressa a Guimarães.
No Diário do Governo de
5 de Outubro de 1871, por Carta de Lei, Sua Majestade El-Rei Dom LUIS, tendo
sancionado o decreto das Cortes Gerais autoriza o Governo a conceder à Câmara
de Penafiel o edifício e a cerca do extinto Convento das Freiras ou
Recolhimento de Nossa Senhora da Conceição de Arrifana de Sousa, para
alargamento da feira, e para que os materiais do edifício sejam empregues na
construção de um quartel.
Com esta dotação real
ao Concelho de Penafiel, estava lançada a primeira pedra do Novo Quartel.
Felizmente no dia 12 de
Janeiro de 1872, regressa toda a Unidade para Penafiel.
A 2 de Abril de 1872,
arrancam as obras do novo quartel, sendo na altura Presidente do Conselho de
Ministro António Maria de Fontes Pereira de Mello e Presidente da Câmara
Municipal de Penafiel Vitorino da Costa.
Mas como costuma
dizer-se; os grandes empreendimentos são sempre alvo das forças misteriosas da
lei da inércia bem como do impulso aleatório da oposição remanescente, logo para
iniciar o renomado industrial agrícola Pedro Guedes e esposa, Dona Maria do
Carmo Faria Palhais, proprietária da casa da Aveleda, intentaram no ano de 1872
contra a Câmara uma acção de reivindicação na qual pediam que a referida Câmara
entregasse a mesma porção de Cerca, bem como os rendimentos desde a indevida
ocupação. Todo este problema foi ultrapassado, como consta do próprio termo de
transacção e da sentença tornada pública, em 24 de Maio de 1873 – Manuel Pedro
Guedes e sua esposa desistiram da “acção” recebendo como indemnização o estrume
do quartel a construir ficando, no entanto, a cargo daqueles a construção da
conduta para receber as “vertentes”.
Apesar de todo o
empenhamento do Presidente da Câmara, Victorino da Costa, vai encontrar muitas
dificuldades e revés como testemunham as Actas da Assembleia da Câmara e a
imprensa local. De caracter honestíssimo e impoluto, não obstante o seu
prestígio, será salpicado pela difamação de seus antagonistas políticos. A
comprová-lo está o grave incidente de uma sindicância accionada pelo Ministério
da Guerra, para averiguar se as obras já realizadas tinham absorvido as verbas
concedidas e se os documentos respectivos estavam legalmente autenticados.
Contrariando o rumo das
investidas de seus adversários, Victorino da Costa vai sair ileso de tão
escrupulosa fiscalização, tendo sido, mesmo, felicitado pelos sindicantes que
lhe não regatearam elogios pela sua inteligente e exemplar gestão.
Volvidos alguns dias,
deslocou-se à cidade do Porto, o chefe político Fontes Pereira de Melo,
Ministro da Guerra.
Com grande sentido de
oportunidade, o Conde de Torres Novas, General da 3.ª Divisão, amigo pessoal de
Victorino da Costa, vai tirar partido desta feliz circunstância para desagravar
as suspeitas de seus incondicionais detractores, logrando uma visita daquela
alta entidade, em 26 de Junho de 1878, para se inteirar in loco do estado
adiantado das obras.
No dia 16 de Julho de
1879, foi entregue o novo quartel ao Regimento de Infantaria 6. Após este acto
público, era de esperar que a gestão dos assuntos decorrentes da persecução das
obras passasse para a competente administração militar.
Em ofício de 19 de
Janeiro de 1880, o Ministério da Guerra assume plenamente, as condições
impostas pela Vereação da Câmara Municipal de Penafiel.
- Indemnização das
avultadas verbas despendidas na construção do quartel.
- Garantia
incondicional de não utilização das instalações para uso diverso daquele que
iria ser consignado em escritura pública (destino permanente para
aquartelamento de tropa).
Em sessão plenária de
29 de Janeiro de 1880, toda a vereação e Varões notáveis da cidade, após terem
tomado conhecimento do ofício do Ministério da Guerra, por unanimidade, julgaram
aceitável a proposta.
A entrega definitiva do
Quartel, vai ter lugar em assinatura pública, no dia 2 de Março de 1880.
Do jornal “A União” de
2 de Junho de 1885.
“Na
segunda-feira pairava ameaçadora sobre a cidade a trovoada, as faíscas
cruzavam-se ininterruptamente no espaço caindo algumas em diferentes pontos da
cidade,… a meia dúzia de passos de distância, encostado a uma torre coberta de
vidro e ferro, sem para-raios, estava o paiol da Infantaria 6!
Imaginemos
que a faísca caía na torre e se comunicava ao paiol; o que seria hoje esse
lindo bairro que lhe fica contíguo?”
Como medida cautelar a
Câmara Municipal tomou, de emergência, a decisão de enviar um telegrama ao
Ministério da Guerra solicitando a construção urgente de um paiol oferecendo
para tal fim terreno, ao fundo do Campo da Feira.
Em consequência, o
Ministério da Guerra decide abrir concurso público, em Março de 1866, para
adjudicação da construção do novo paiol para o RI6.
As obras decorrem em
bom ritmo de execução e criteriosa escolha de materiais. Assim, apenas
percorrido um ano, em Março de 1887, surge do lado sul do Largo Conde de Torres
Novas um edifício de sólida e elegante construção.
Embora, ainda hoje,
muitos penafidelenses pensem e afirmem, que o Quartel e o Campo da Feira ou
Largo do Conde de Torres Novas são pertença da Quinta da Aveleda, pelo que
atrás foi descrito, facilmente se pode concluir que isso não corresponde à
verdade, sendo o quartel e o paiol pertença do Estado, e o Campo da Feira da
Câmara Municipal de Penafiel. Também se pode ver, qual a razão dos nomes das
ruas que circulam o quartel.
Para a elaboração deste
texto, foi consultada a “História do Quartel de Penafiel” de autoria do Tenente
Coronel Olavo Rocha
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