12 maio 2012

MANUEL ALEGRE

BALADA DOS AFLITOS




O poeta e escritor Manuel Alegre, acaba de lançar mais um livro de poesia, intitulado: “Nada está escrito.

O autor da Praça da Canção, faz novamente a poesia descer à rua, dando voz a este povo aflito.

Não é costume meu, publicar poesia neste blogue, mas como estamos para aqui aflitos com o cerco da alta-finança, e com os cobradores de impostos instalados no governo do faz de conta, não resisti a trazer até aqui esta “Balada dos Aflitos”.


BALADA DOS AFLITOS

Irmãos humanos tão desamparados
a luz que nos guiava já não guia
somos pessoas - dizeis - e não mercados
este por certo não é tempo de poesia
gostaria de vos dar outros recados
com pão e vinho e menos mais valia. 


Irmãos meus que passais um mau bocado
e não tendes sequer a fantasia
de sonhar outro tempo e outro lado
como António digo adeus a Alexandria
desconcerto do mundo tão mudado
tão diferente daquilo que se queria. 


Talvez Deus esteja a ser crucificado
neste reino onde tudo se avalia
irmãos meus sem valor acrescentado
rogai por nós Senhora da Agonia
irmãos meus a quem tudo é recusado
talvez o poema traga um novo dia. 


Rogai por nós Senhora dos Aflitos
em cada dia em terra naufragados
mão invisível nos tem aqui proscritos
em nós mesmos perdidos e cercados
venham por nós os versos nunca escritos
irmãos humanos que não sois mercados.