SONHO LONGÍNQUO
A
CASA
E QUINTA
DE CABANELAS
SONHO
LONGÍNQUO
Ao
contrário de certos políticos da nossa praça, aqui com a minha
pessoa o prometido é cumprido, por isso aqui fica um poema sobre a
Casa e Quinta de Cabanelas, com o título Sonho Longínquo.
A
composição poética é feita em estrofes de seis versos de sete
sílabas e rimas simples, ou seja em sextilhas, e embora não esteja
assinada pelo seu autor, no final da mesma está datada com:
Porto
– Abril 1902.
Por
tal motivo, no mês passado fez 115 anos, em que este Sonho Longínquo
foi escrito.
Casinhas
brancas da minha aldeia
Que
em tantas noites de lua cheia
Me
consoláveis só de vos ver,
Bons
castanheiros tão meus amigos,
Campos
repletos de loiro trigo,
Horas
tão lindas do anoitecer.
Braços
algentes da Cruz do Outeiro,
Copado
cedro tão altaneio
Que
há tantos anos caíu no chão,
Verdes
loireiros do fim da quinta
Com
tanta sombra que inda se pinta
Nos
sonhos vagos do coração.
Pequenas
grutas, Alto da Vinha,
Onde
por vezes eu me detinha
Alguns
instantes ao pôr-do-sol,
Quando
sentia voar dispersos
Entre
saudades meus pobres versos
Ouvindo
o canto do rouxinol.
Antigo
pátio, grande terreiro
Em
muitas léguas sendo o primeiro
Nessa
grandeza que não tem par,
Ruas
extensas, largo de buxo,
Jardim
tão lindo que ao seu repuxo
Nos
atraía sem descansar.
Águas
tão puras, tão rumorosas,
Negros
ciprestes cheios de rosas,
Lembrais-me
sempre com todo o amor,
Como
eu vos amo! Como eu vos quero!
Só
em lembrar-vos me desaltero
Desta
saudade dum sonhador...
Quando
me lembro de alguns instantes
Junto
da Fonte dos Estudantes
E
nos baloiços do laranjal,
Inda
estremeço e quase me iludo,
Sonhando
sempre que vejo tudo
Na
antiga forma tão natural.
Nossos
criados – bonito bando! -
De
pais e filhos iam ficando
Numa
cadeia que dá prazer...
Tempo
foi esse que mais não volta
-
Rosa caída n'água revolta
Com
tanto viço não hás-de ver.
Inda
me lembro de alguns velhinhos
Que
nos tratavam com mil carinhos
Que
nos amavam quais filhos seus,
Tão
pressurosos, tão dedicados,
Que
me recordo dos seus cuidados
Nalgumas
rezas que faço a Deus.
Que
enorme gosto nesses folares,
Quando
nós íamos pelos lugares
Num
alvoroço todo febril...
Com
que saudades me lembro agora
Desses
momentos da nossa aurora,
Daqueles
dias do nosso Abril!
Bancos
de pedra do fim da quinta
Duma
beleza que mal se pinta,
Como
eu vos quero com tanto amor!
Ai!
só Deus sabe com que alegria
De
novo agora vos pediria
Algum
descanso reparador.
Porto
– Abril de 1902
Com
este poema podemos ver algumas vivências e a paisagem que se
desfrutava na Casa e Quinta de Cabanelas nesse tempo longínquo, que
para o autor tudo isto lhe parecia um sonho.
E
pronto, aqui deixo um pouco de estória fora da história, deste
recanto com encanto da freguesia de Bustelo.
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