ASSALTO A UM ESTABELECIMENTO
ABRIL
EM MAIO
ASSALTO
A UM ESTABELECIMENTO
Depois
de no dia 27 de Abril de 1974, os alunos do Liceu Nacional de
Penafiel, seguirem em manifestação do Largo da Ajuda até ao RAL5,
no início do mês de Maio da parte da manhã foi a vez dos alunos da
Escola Industrial e Comercial de Penafiel, se dirigirem ao Regimento
de Artilharia 5 e apresentarem o seu apoio incondicional à Junta de
Salvação Nacional, presidida pelo General António de Spínola,
segundo notícia publicada no Jornal de Notícias no dia 6 de Maio de
1974.
Mas
no dia 6 de Maio de 1974, depois do almoço, ou seja cerca das
14,30h, é organizada uma manifestação com os alunos da mesma
escola cujo fim era um assalto a um estabelecimento desta cidade de
Penafiel.
O
estabelecimento em causa, era a Foto Antony, situada na Rua do Paço,
e que nas suas montras estavam afixados vários documentos
relacionados com o Movimento das Forças Armadas, e um retrato do
General Sem Medo, Humberto Delgado.
Os
alunos já crescidos invadiram o estabelecimento e enquanto isso ia
sucedendo, uma aluna mestiça proferia na rua as maiores
obscenidades.
Mas
para melhor compreendermos o que se passou à época, nada melhor do
que transcrever o relato deste facto publicado no Jornal do Comércio
do Porto de 8 de Maio de 1974, sobre este triste acontecimento.
ASSALTADO
O ESTABELECIMENTO
de
um democrata penafidelense
“Aconteceu
em Penafiel, por volta das 14 horas e meia. Nas montras do
estabelecimento de fotografia que o sr. António Guimarães, nosso
solicito correspondente naquela localidade, possui na sua residência,
na Rua do Paço 32, ostentava-se vária propaganda que o seu coração
de democrata de sempre guardara, religiosamente, durante todos esses
anos em que não fora possível exibi-la com a liberdade dos dias
actuais. Eram imagens do que fora a acção das Forças Armadas em
Penafiel na data histórica do 25 de Abril; era a reprodução de uma
gravura de 1958, mostrando o General Humberto Delgado, líder liberal
de então, numa das suas atitudes de tribuno, e, logo a seguir, um
cartaz com a afirmação de que ele fora vítima de assassínio
perpetrado pela polícia política.
Na
outra montra do estabelecimento, junto da profusa documentação do
Movimento Democrático de Penafiel, incluindo convocatórias de
reuniões, um documento chamando a atenção dos colaboradores da
Imprensa para certas formas de propaganda, atentatórias da verdade,
mediante “informação” obtida em condições mais ou menos
suspeitas e através de “informadores” que o não eram menos.
De
repente, desembocou na estreita rua, um grupo de estudantes da Escola
Industrial de Penafiel, miúdos de onze / doze anos como que
“enquadrados” por graúdos bastante mais “espigados”. Vinham
também segundo apuramos “in loco”, mediante o depoimento de
testemunhas oculares e “auriculares”, funcionários
administrativos daquele estabelecimento de ensino, bem como pessoal
serventuário, uns e outros ostentando cartazes e cantando
estribilhos contra o sr. António Guimarães e favoráveis ao
director da Escola.
Parando
em frente do estabelecimento do primeiro, os graúdos entraram ali,
exigindo da filha do proprietário, no momento ausente em outro
local, que da montra fosse retirado o tal documento de alerta, “se
não partiriam os vidros da montra” …
Ao
mesmo tempo, na rua, indivíduos do sexo feminino, supostamente
alunas da Escola, proferiam insultos contra o sr. Guimarães,
ofendendo-o, inclusivamente, na sua honra de marido e de filho. E era
uma menina mestiça quem, na circunstância, mais se evidenciava em
tal linguajar.
Intervenções
Oportunas
Entretanto,
várias pessoas da vizinhança, muito justamente indignadas com o que
se estava a passar, intervieram, evitando assim que os manifestantes
levassem por diante as suas ameaças, talvez prestes a
concretizarem-se, uma vez que chegaram a agarrar pelos braços a
filha do proprietário do estabelecimento, tentando forçá-la a
retirar da montra o documento já citado, ao mesmo tempo que
insultavam a mãe da jovem, senhora muito doente e que, por isso, se
sentiu muito mal.
Valeu
às duas senhoras, na emergência, a intervenção oportuna dos srs.
Valentim Bessa Moreira, finalista do Liceu, e Augusto de Sousa
Magalhães, funcionário do Grémio do Comércio, os quais foram
unânimes em afirmar que “eles entraram por aqui dentro e, enquanto
uns invadiam tudo, outros batiam nos vidros da montra”.
Segundo
contaram ao último, “a ordem que traziam era de partir os vidros,
se o papel não fosse retirado”. Referiu, ainda, o sr. Magalhães,
que “uma professora só saiu do local quando o aspirante João
Lima, que pouco depois passara perto, a caminho da instrução, com
alguns soldados, e cujo auxílio fora solicitado do R.A.L. 5, os
ânimos aquietaram-se. Com efeito, aquele aspirante a oficial ,
fazendo uso de um megafone, avisou os assaltantes de que poderia
ver-se obrigado a prendê-los, se não respeitassem o direito de cada
um manifestar desassombrada e livremente as suas opiniões, quanto
mais invadindo-lhe a casa e ameaçando a família!
Falámos,
ainda, com o sr. Alferes Neto da Silva, da referida unidade militar,
que nos confirmou a invasão, as ameaças e os insultos”.
A solidariedade a António
Guimarães não se fez esperar através de telegramas.
ESTOU CONSIGO SUA ESPOSA E FILHA
CONTRA MISERÁVEL RIDÍCULO ATENTADO
António, Bispo do Porto
NOSSO MAIS VIOLENTO PROTESTO
AGRAVOS DE QUEM FOI VÍTIMA
Grande Abraço
Jaime Mota - Lisboa
Nota – O Dr. Jaime mota foi a
individualidade que mais se empenhou pela instalação da Escola
Industrial de Penafiel e à sua intervenção deve uma pronta
resolução
COMUNGO LUTA DEMOCRACIA REPÚDIO
LUDIBRIOS FASCISTAS
Padre Sousa Alves - Felgueiras
NOSSA QUERIDA CIDADE MAL VISTA
DEVIDO ASSALTO INQUALIFICÁVEL SEU ESTABELECIMENTO CASTIGUE E
DENUNCIE OS CULPADOS APOIAM-NO PENAFIDELENSES AUSENTES.
Fernando Guedes – Guimarães
IMPOSSIBILITADO DOENÇA DE POSSIBILITAR SOLIDARIEDADE AO
VELHO SACRIFICADO DEMOCRATA VAI PROTESTO CONTRA VIL ATENTADO FOI
VITIMA FASCISTAS AINDA MANDANTES NOSSA TERRA
Manuel Motta – Lousada
ACEITE A NOSSA SOLIDARIEDADE CONTRA VIL INSULTO SOFRIDO
PROVA TERMOS ESTAR ALERTADOS CONTRA REVOLUÇÃO
Abraço democrático do velho amigo Manuel Coelho Crespo
– Chaves
CONHECIMENTO HOJE NOTICIA ESTÚPIDO ASSALTO AGENTES
CAMALEONISTAS LACAIOS FASCISTAS EXPRESSO REPULSA STOP
Melhores cumprimentos Luis Bessa
– Vila Nova de Gaia
Do Jornal dos Emigrantes que se publica em França
“PORTUGAL
POPULAR”
Ilustre amigo
Lamento profundamente o vil atentado de que foi vítima
de um bando de estudantes, sem escrúpulos e sem respeito pelo seu
semelhante. A minha manifesta solidariedade e repudio a vileza de que
foi alvo, bem como de sua esposa e filha quando da sua ausência.
Acredite que fiquei chocado com o que aconteceu.
Disponha dos meus préstimos para o que achar conveniente.
Atenciosamente
a) José Ferreira
Infelizmente há coisas que não deveriam ter acontecido
na nossa terra, mas quer se goste quer não goste aconteceram, e
fazem parte da nossa história de aprendizagem democrática.
O essencial mesmo, é que se
aprenda a lição e não se volte a repetir tais coisas.
Afinal de
contas, todos os intervenientes e os mentores deste acontecimento,
ficaram muito mal na fotografia.
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