A
MOURA ENCANTADA
DO
OUTEIRO DA CRUZ
Outeiro ainda sem a Cruz em 1931 |
Ainda voltando à freguesia de Bustelo, próximo
do Solar de Cabanelas e a ele vinculado, ergue-se, proeminente, um
monte geometricamente cónico, denominado por: Outeiro da Cruz ou
Outeiro da Moura.
O cristão Manuel José Ribeiro vigiando o tesouro da Moura Encantada |
Hoje
encontra-se no cimo do morro um penedo granítico, cravada pelo pé,
uma simples cruz de pedra inclinada a 75º para sul. É esta a cruz
que serve de topónimo ao local.
Segundo
o conceito popular, a cruz foi ali implantada, com aquela inclinação,
para indicar aos Cristãos o quadrante perigoso donde poderiam surgir
os infiéis.
Ora
a direcção que o pequeno cruzeiro nos aponta na sua rígida flexão
é a zona castreja situada entre Croca, Santa Marta e o Monte da
Senhora da Piedade (vulgarmente chamado de Sameiro), sobranceiro à
cidade de Penafiel.
Segundo
a lenda, debaixo do cume do Outeiro da Cruz existe uma capela na qual
existe um tesouro com pedras preciosas e ouro, pertencentes a um
fabuloso rei árabe que ali o deixou a guardar a uma filha,
formosíssima princesa, moura encantada que vagueia, durante a noite,
pela crista do outeiro, envolta numa poalha de luz irreal.
Todos
sabemos que Portugal é um país de mouras encantadas. Do Minho ao
Algarve não faltam as histórias tristes ou dramáticas, mas sempre
poéticas e encantadoras, de mouras e tesouros.
Assim,
para retratar esta lenda, o Dr. António de Meneses compôs uma
interessante poesia intitulada:
“A
Moura Encantada
do Outeiro da Cruz.”
Tu
não acreditas em contos de fadas,
De
bruxas que venham banhar-se nas fontes;
Mas
olha que há mouras que estão encantadas,
Por
entre rochedos, no cimo dos montes.
Na
aldeia onde moro – o caso é bem certo -
Há
uma que vive no “Outeiro da Cruz”;
Não
falta quem tenha já visto de perto
Seus
olhos tão meigos, brilhantes de luz.
Há
quem a tem visto de tarde, ao sol-posto,
Sentada
na relva, cismando sozinha...
E
dizem que é bela, que mostra no rosto
Bem cheio de encantos – um ar de rainha;
Bem cheio de encantos – um ar de rainha;
Também
a têm visto de noite, espelhando
-Cobrindo-lhe
o corpo mimosos cendais -
Sem
mais outro esforço que a voz do seu mando,
Mil
jóias de preço, rubis e corais.
Anéis
e pulseiras, mil cousas em ouro...
Que
ao longe se avistam por cima das rochas,
À
luz que dardejam naquele tesouro
Seus
olhos brilhantes parecidos com tochas;
Alguém
assegura que a moura, sozinha,
De
noite velando por tanta riqueza,
No
cimo do Outeiro passeia e caminha,
Soltando
queixumes de infinita tristeza;
E
todos afirmam que, à luz da alvorada,
A
moura desfaz-se qual doce visão,
Por
entre os rochedos vivendo encantada,
Enquanto
ali veja o Sinal do cristão.
Não
venhas dizer-me que creio em cantigas,
É
crença arreigada que tem muitos anos.
Jamais
– nem brincando! Tolero que digas
Que
as crenças do povo são cheias de enganos
Eu
não acredito que existam bruxedos,
Ou
génios que nadem no meio da luz;
Não
creio em duendes, em fadas ou medos...
Mas
creio na moura do “Outeiro da Cruz”
Avista-se
ao longe, de rosas coberto,
Um
grande Penedo da Moura chamado;
Se
não acreditas, vem vê-lo de perto
E
ficas sabendo que é facto provado.
Enfim,
conversando com toda a franqueza
De
amigo sincero e leal coração,
Inda
hás-de dizer-me: Já tenho a certeza!
A
Moura encantada não é ilusão.
Se
hoje ficamos com este poema sobre o Outeiro da Cruz, prometo que na
próxima postagem no blogue Penafiel Terra Nossa, publicar mais um
poema de 1902, que retrata também a Quinta de Cabanelas.
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