ANTÓNIO GUIMARÃES PROPÕE NOME DE RUA PARA O DR. JOAQUIM COTTA
ABRIL
EM MAIO
ANTÓNIO
GUIMARÃES
PROPÕE
NOME DE RUA PARA
Democratas
penafidelenses:
Esta
hora não é só de alegria pela liberdade que, desde 25 de Abril
passado, graças ao Movimento das Forças Armadas de Portugal, todo o
País está a viver, liberto do Medo e da Opressão.
Esta
hora é também de meditação e muita saudade!
Meditação
para cada um de nós que tem de se consciencializar, de que, daqui
para o futuro, este concelho de Penafiel depende tão somente da
união, da vontade do Povo e do nosso querer.
Acabou-se
a era do “mando, posso e quero”, que presidia a todas as decisões
dos fascistas que detinham nas suas mãos os destinos da terra
penafidelense, que agiam como se Penafiel fosse propriedade deles!
Agora
somos nós, Povo Português, quem, unido, manda, pode e quer!
Agora
somos nós que, democraticamente vamos escolher e colocar à frente
dos destinos do nosso concelho e à frente dos destinos das
instituições penafidelenses os homens bons e válidos da nossa
terra, que nos mereçam a confiança de ocupar tais cargos.
Agora
temos a liberdade de escolher. Por isso é que eu disse que esta hora
é de meditação.
Referi
também que este momento é de Saudade.
Saudade
por todos aqueles bons democratas penafidelenses que sempre se
recusaram a aceitar a canga do fascismo, que sempre lutaram por esta
liberdade e que a morte levou sem que a pudessem viver como nós
hoje, unidos, vivemos!
Cumpre-nos
aqui a grata obrigação de os recordar. De todos eles, permiti que
destaque a figura ímpar desse Homem que foi o Dr. Joaquim Cotta, de
cujas ideias democratas, seu filho aqui presente, foi universal
herdeiro e tão bem saber honrar.
O
Dr. Joaquim Cotta nasceu, viveu e morreu abraçado aos seus ideais
democráticos.
Durante
toda a sua vida fez da medicina um sacerdócio.
Era
do povo, para o povo viveu e ainda hoje continua presente no coração
do Povo de Penafiel.
Como
Director Clínico que foi do Hospital de Penafiel, foi um
sacrificado. Pois nem assim deixou de ser miseravelmente suspenso de
tal cargo só por via dos seus ideais políticos!
Foi
Governador Civil do Distrito... mas não se governou!
Samaritano
da medicina, choraram-no os pobres e os desvalidos da fortuna porque
ele fez da sua vida profissional uma contínua Obra de misericórdia.
Ao
recordar esse grande democrata nesta hora, prestamos-lhe a homenagem
pública que nunca foi possível prestar-lhe!
Democratas
penafidelenses:
Por
todo o Portugal se vive a alegria de sermos um Povo livre ao cabo de
48 anos de ditadura fascista.
Honra
e Glória ás Forças Armadas Portuguesas. Mas elas e a Junta de
Salvação Nacional nesta altura necessitam mais do que os nossos
agradecimentos, do que as nossas flores: precisam que estejamos
inteiramente unidos com elas, para que a opressão não volte, para
que todos possamos construir um Portugal novo, livre, democrático,
nosso!
Permiti
ainda, senhores penafidelenses que recordemos outros nomes de
democráticos que ainda estão na memória dos velhos mas que devem
ser conhecidos da juventude, porque combateram e se expuseram até,
sofrendo já então, pelo menos a doçura das masmorras.
São
entre outros Cipriano Barbosa, Doutor Joaquim Peixoto, Dr. Coelho da
Mota, Rodrigo Babo e Adriano Barbosa.
Para
todos eles as nossas homenagens.
Permito-me
referir ainda o nome de um exilado, penafidelense que já se encontra
em Portugal, mas que não conseguimos contactar. Segundo informações
deve chegar hoje de tarde à sua casa da Quintã, na freguesia de
Peroselo, deste concelho.
Trata-se
do Poeta e escritor Dr. José Augusto de Moura Seabra.
D. António Ferreira Gomes, Bispo do Porto. |
Não
ficaríamos de bem com a nossa consciência se não referíssemos
outro conterrâneo, que sofreu o exílio durante largos anos pelas
suas ideias antifascistas e que é o Senhor D. António Ferreira
Gomes, Bispo do Porto a quem o concelho de Penafiel não pode deixar
de prestar as suas respeitosas homenagens.
E
para terminar seja-nos permitido apresentar uma proposta que julgarão
e sobre a qual decidirá esta verdadeira assembleia: Propomos que
seja dado o nome do Dr. Joaquim Cotta à rua onde ele teve a sua
residência, onde acolheu com toda a sua dedicação, generosidade e
sacrifício, já na velhice, os doentes pobres a quem ele nunca soube
negar-se.
Embora
tarde demais a dívida ficará saldada de tal forma, que Penafiel
como um dever de reconhecida gratidão.
Penafiel, comício de 12 de Maio de 1974
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