CANCIONEIRO DO NIASSA
CANCIONEIRO DO NIASSA
Hoje não vou
falar de um cantor em especial, mas sim
de um cancioneiro, que circulava policopiado, de mão em mão à sucapa entre os militares
portugueses nos três cenários de guerra em África.
O
Cancioneiro do Niassa, nasceu na região do Niassa, Moçambique, durante a Guerra
Colonial nos finais da década de 60, e é uma colectânea de fados e canções
centrados na vida dos militares Portugueses.
Engendrado
de forma dispersa em 1968, foi contudo no sector A de Moçambique (Niassa, capital
Vila Cabral) que os seus executantes, entre 69 e 71, decidiram compilar uma
série, cada vez mais volumosa de letras contra a guerra e os seus responsáveis,
de lamento e protesto pelas condições de vida da tropa.
As músicas
já estavam feitas, pois eram os temas mais populares conhecidos do momento. Foi
só encaixar palavras e versos nas composições que todos já trauteavam e
assobiavam, o que partia logo com 50% do êxito garantido.
José Maria
Pinto (conhecido pelos portugueses através do programa Malucos do Riso),
chefiava o Grupo Recreativo de Nampula, por isso fazia várias digressões pelo
território, onde aproveitava para divulgar alguns temas do cancioneiro.
Mas o que
possibilitou a maior divulgação foi o contacto com o Fotocine e a rádio local,
que permitiram fazer gravações com condições muito satisfatórias.
A partir
daí, o cancioneiro expandiu-se pelas mãos dos militares que levavam as cassetes
para casa ou para outras frentes de batalha.
E o
Cancioneiro do Niassa saltou rapidamente as fronteiras de Moçambique,
aparecendo na Guiné, em Angola e na Metrópole.
Em 1999, é
editado pela Valentim de Carvalho, um CD com o título "Canções
Proibidas", produzido por Laurent Filipe, e que é nada mais nada menos,
que 13 canções seleccionadas, e cantadas pelo João Maria Pinto e seus
convidados (entre outros, Carlos do Carmo, Rui Veloso, Paulo Carvalho, Janita
Salomé, João Afonso):
1.
Ventos de Guerra - João Maria Pinto/Rui Veloso;
2.
Taberna do Diabo - João Maria Pinto/Gouveia Ferreira; 3. Fado do Checa - Paulo
de Carvalho;
4.
O Turra das Minas - João Maria Pinto/Rui Veloso;
5.
Erva Lá Na Picada - João Maria Pinto/Janita Salomé;
6.
Luta p'la Vida - João Maria Pinto;
7.
Neutel d'Abreu - João Maria Pinto/Mariana Abrunheiro; 8. Bocas Bocas - Lura,
João Maria Pinto/Mingo Rangel;
9.
Fado do Miliciano - Janita Salomé;
10.
O Fado do desertor - Carlos do Carmo;
11.
O fado do Antoninho - Teresa Tapadas;
12.
Hino de Vila Cabral - Carlos Macedo/João Maria Pinto;
13.
O Hino do Lunho - João Maria Pinto e outros (João Afonso, Ana Picoito,
Tetvocal...).
O
produto da venda deste disco reverte a favor da Associação de Dificientes das
Forças Armadas (ADFA).
Vamos
ouvir neste domingo o Hino do Lunho, com a música dos Vampiros de José Afonso,
relatando as contradição entre os combatentes da picada e os do arame farpado.
-Bom
domingo!
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