VITORINO DE SOUSA ALVES UM FILÓSOFO PENAFIDELENSE
VITORINO DE SOUSA ALVES
UM FILÓSOFO PENAFIDELENSE
1915 - 2002
Vitorino de Sousa Alves ladeado pelos sobrinhos Rafael Telmo e Renato Cláudio |
Vitorino de Sousa Alves, nasceu na freguesia de
Guilhufe, concelho de Penafiel, no dia 26 de Julho de 1915, partindo para os
braços do Senhor, no dia 8 de Janeiro de 2002.
Ingressou na Companhia de Jesus a 7 de Setembro de
1935, onde cursou Humanidades no Convento da Costa em Guimarães, tendo-se
posteriormente licenciado em Filosofia na Faculdade de Filosofia de Braga e em
Teologia na Universidade Gregoriana de Roma.
Em 1957 defendeu a sua tese de doutoramento sobre a
Dialéctica do Espaço e do Tempo.
Logo em seguida começou a leccionar em Braga as
cadeiras de Cosmologia e Filosofia das Ciências, regendo também cursos livres,
durante dois anos, no âmbito das mesmas disciplinas, no Centro de Estudos
Humanísticos, anexo à Universidade do Porto.
Na Faculdade de Filosofia de Braga ficou sobretudo
conhecido pela regência dos cursos de Lógica Formal e de Epistemologia Geral.
A sua formação cultural era extraordinária e invulgar
pois fundava-se num conhecimento aprofundado tanto dos grandes autores da
matemática, das ciências e da lógica como nos da Filosofia, destacando-se em
particular o seu conhecimento de Aristóteles, Tomás de Aquino e Pedro da
Fonseca, bem como de Kant e Hegel, Bertrand Russell, Edmund Hussel, Teilhard de
Chardin, Ludwig Wittgenstein, Karl Popper, etc.
De facto, podemos dizer que o pensamento de Vitorino
Sousa Alves era essencialmente o fruto de um diálogo atento e rigoroso com os
grandes autores do pensamento e as grandes questões suscitadas na história do
pensamento filosófico e científico.
Na História do Pensamento filosófico Português, Lúcio
Craveiro da Silva, procurou condensar a Obra de Vitorino Sousa Alves, seu
antigo aluno, da seguinte maneira:
"O Professor Vitorino de Sousa
Alves é certamente o autor mais representativo na Filosofia das Ciências entre
nós, o que demonstrou nos seus estudos e em congressos internacionais.
Resumindo os seus principais trabalhos de investigação no domínio das relações
entre a Ciência e a Filosofia no seu livro Ensaio de Filosofia das Ciências
(Braga, 1998), nele trata da Teoria da Ciência e Epistemologia Geral e das
fundamentações lógica e filosófica de várias ciências, como Física Teórica,
Cosmologia, Matemática e Lógica Formal, analisando e tomando posição «na
análise crítica dos problemas mais relevantes e radicais que os cientistas
modernos põem à filosofia». O programa sobre a natureza, valor e limites do
conhecimento científico, exige a descoberta e a crítica dos fundamentos e
princípios das teorias axiomáticas, donde partem as ciências para a sua
investigação e construção. O que há de mais notável nestes estudos do Prof.
Sousa Alves é que ele junta um conhecimento e domínio invulgar das ciências
físicas e matemáticas a uma visão actualizada da filosofia. Embora conheça a
filosofia escolástica donde partiu, soube primeiro inová-la e depois caminhar
para um campo até agora quase inexplorado entre nós e, actualizando-se, não
ficou preso a teorias ultrapassadas e encontrou perspectivas e soluções de
diálogo entre as ciências actuais e a filosofia contemporânea."
O acerto destas observações por parte do Professor
Lúcio Craveiro da Silva (1914-2007), parece-me evidente, e de grande finura.
Por isso, continuo a citação do seu texto sobre o seu antigo aluno:
"O Professor Sousa Alves
dedicou-se ainda ao estudo da Lógica, tanto clássica, na qual apresenta uma
interessante inovação, como da Lógica Matemática, de que foi um dos primeiros a
adoptá-la no ensino em Portugal. No seu Curso de Lógica (...), estuda a definição
e objecto, domínio e método para a construção da Lógica, desde a Analítica de
Aristóteles até ao período contemporâneo das lógicas polivalentes a n-valores e
dos teoremas de Gentzen e Gõdel sobre a validade e limites dos sistemas lógicos
dedutivos.
Na Lógica Clássica construiu um novo
sistema dedutivo de classes para a teoria silo-gística e nele estabeleceu a
redução de todos os modos silogísticos, válidos, a 2 axiomas, o Barbara e Darii
(da 1.ª figura) e prova, por dedução, todos os outros modos silogísticos como
Teoremas."
E acrescenta ainda Lúcio Craveiro da Silva:
"Depois expõe a Lógica Matemática ou Simbólica, na qual analisa vários
calculos: o Proposicional das fórmulas tautológicas e seu sistema dedutivo; o
Funcional de predicados (de 1.a e 2.a ordem); o de classes com a descrição
crítica dos transfinitos cantorianos e antinomias lógicas, e o cálculo de
relações. Analisa também o valor e limites dos sistemas lógicos dedutivos por
causa da descoberta de, proposições e princípios indecidíveis. [Analisa
igualmente o modo com o] Os teoremas de Gentzen e de Gõdel levaram à matemática
finitista de Hilbert e à aritmatização da lógica pura para fundamentar a
Matemática".
Vitorino de Sousa Alves, é o terceiro da fila de cima, da esquerda para a direita da foto, tirada em Braga. |
Vitorino de Sousa Alves, no que se refere à Filosofia
das Ciências, deteve-se sobretudo num aprofundamento das questões filosóficas
suscitadas pelos avanços da Matemática, da Física e da Lógica.
Como jesuíta e homem da Igreja, soube sempre dialogar
com argúcia e penetração, com profundo respeito e conhecimento directo dos
grandes autores do pensamento filosófico e científico.
O seu fascínio era interpretar os mundos da Filosofia
e da Ciência numa perspectiva compreensiva, em atenção às questões mais
radicais de que é capaz a mente humana, inserindo esta e as suas deambulações
no contexto de uma visão verdadeiramente cósmica da realidade.
Vitorino de Sousa Alves foi um distinto
Professor da Universidade Católica Portuguesa e um notável e assíduo
colaborador da Revista Portuguesa de Filosofia.
Seu nome permanece na toponímia de Braga com o nome de
Rua Padre Vitorino de Sousa Alves, na freguesia de Fraião.
Neste ano em que se comemora o centenário do seu
nascimento, o blogue "Penafiel Terra Nossa", presta esta singela
homenagem ao filósofo penafidelense Vitorino de Sousa Alves, um dos Mestres
mais insignes da Filosofia Portuguesa.
Nota - As fotos que ilustram este texto, foram cedidas
pelo sobrinho Rafael Telmo.
2 Comments:
Sou Manuel Luís Lopes Batalha, fui aluno do Professor Padre Vitorino de Sousa Costa, na licenciatura em Filosofia, na Universidade Católica de Braga. Como é referido leccionava a Cadeira de Lógica (termo genérico)e do senhor professor recebi sábias lições, com que, também, maravilhava todos os alunos. Sábio na matéria a expor, ritmava um andamento de exposição da mesma que motivava. Duma relação afável, alegre estava, mesmo depois das aulas, disposto a "tirar" qualquer dúvida. Não esqueço doutor Vitorino de Sousa Alves, pelos seus cabelos meio encaracolados meio penteados, outro meio para pentear; a sua camisola de gola alta; a sua "gabardine", que tudo girava sempre que com o giz na mão descrevia, escrevia e falava, num movimento em que únicos se criava uma nuvem de pó de giz; de movimento de "gabardine"; de cabelos e o som das suas palavras maravilhava toda a aula.
Obrigado pelo seu comentário, descrevendo as aulas deste Filósofo penafidelense Vitorino de Sousa Alves. Um abraço.
Enviar um comentário
<< Home