13 dezembro 2012

VOLODYMYR - O MEU AMIGO DE LONGE



VOLODYMYR

O MEU AMIGO DE LONGE

Nas Festas do Corpo de Deus em Penafiel
Com a queda do muro de Berlim, e o desmantelamento das sociedades do Leste, iniciou-se uma vaga de imigração desses povos rumo ao Ocidente Europeu, à procura de uma vida melhor.


Talvez a hospitalidade do povo português, e o próprio clima, tenham influenciado muitos deles, na escolha de Portugal como país de destino. Assim, na nossa terra, começa a aparecer uma raça de homens mais altos que nós, que falam uma língua diferente da nossa, e mulheres que têm pele cor da neve. Chamam-lhes ucranianos, russos, ou simplesmente pessoas do Leste. 


Nas relações laborais, muitos foram os que cruzaram comigo no dia-a-dia. A primeira pessoa com quem convivi, foi com o ucraniano Volodymyr. Facilmente se lhe detectavam algumas qualidades, como sejam: homem muito atento, calmo e super educado. Quando por qualquer motivo, vinha à conversa a família, seu coração se apertava e um brilhozinho nascia ao canto dos olhos.


Da primeira vez que regressou das férias, trouxe consigo a sua esposa. Hoje, já fala razoavelmente o português, e sempre que nos cruzamos nas seculares ruas desta cidade de Penafiel, o cumprimento já é feito na língua de Camões. 


Qual não foi o meu espanto, no dia das Festas da Cidade e Concelho de Penafiel, ou seja, no Corpo de Deus, quando os meus olhos vêm o meu amigo, agarrado ao seu saxofone a debitar notas musicais, integrado na Banda de Música de Paço de Sousa. Perante este seu sucesso de integração na sociedade, creio que não erro, ao afirmar que parte dele se deve à sua companheira. É que, caso ela não o tivesse acompanhado nesta sua aventura de vida, o meu amigo Volodymyr, já teria morrido de saudades. Se os portugueses ainda conseguem atenuar a saudade com um fado, os ucranianos por muito boa voz que possuam, falta-lhes a alma lusitana para o conseguirem. 


Sempre que pode, regressa às suas raízes ou seja à sua pátria ucraniana, ou melhor dizendo à sua terra natal Sumy, para abraçar a família, rever amigos, e alimentar as suas raízes culturais e religiosas, ao mesmo tempo que carrega baterias, para mais um ano de trabalho árduo no nosso Portugal. 


Há quem diga que os extremos se tocam. Não sei se será correcto fazer estas comparações ou se será sina destes povos dos extremos da Europa, terem um país para nascer e o mundo para morrer. Também não sei se será correcto, afirmar que ambos sofreram as mais antigas ditaduras da Europa. Coincidências ou coisas do destino, e se a este não se pode fugir, o melhor que temos a fazer, é aguentar, até que o mundo dê outra volta.



                             Por: Fernando José de Oliveira




Nunca pensei que um escrito meu viesse a servir de carta de recomendação a alguém, ou como se diz agora, de curriculum vitae.


Há dias encontrei o meu amigo ucraniano Volodymyr, que já não via há muito tempo, quando me dirigia para a mercearia O Pedro, junto aos Bombeiros Voluntários de Penafiel. 


Como em Portugal o trabalho escasseou, o meu amigo rumou com a família para Espanha, mais propriamente para Valencia, onde procura ganhar a vida.


Por terras de Cervantes, Volodymyr pegou na folha de jornal com este texto impresso, e foi bater à porta da banda de música de Valencia.


Agora, o seu saxofone vai contribuindo para alegrar festas e romarias dos nossos vizinhos espanhóis.


Pelos vistos, um escrito pode ter muita mais utilidade do que a simples leitura, e que por vezes, nem o seu autor imagina.