JANEIRAS E REIS
No tempo em que a figura principal do Natal era o Menino Jesus, e não o Pai Natal desta sociedade de consumo, as Janeiras cantavam-se no dia 31 de Dezembro e por isso se trauteava:
Por ser véspera de Ano Novo
Vimos cantar as Janeiras
Foi nascido o Deus Menino
No Jardim das Oliveiras
E os Reis no dia 5 de Janeiro, desta maneira:
Por hoje ser dia cinco
Amanhã ser dia seis
Vimos dar as Boas Festas
E também cantar os Reis.
E não como agora, em um qualquer pavilhão fora do prazo de validade.
Foto tirada na escadaria da igreja de Nossa Senhora da Piedade, no dia 6 de Janeiro de 1933
Na década de trinta do século passado, existiam em Penafiel dois clubes de futebol, a União Desportiva Penafidelense e o Sport Clube de Penafiel e ambos tinham a sua Orquestra Jazz que animavam as noites de Janeiras e Reis, enchendo as ruas da cidade de Penafiel de público para as ouvirem.
Com o passar dos anos, a Orquestra Jazz Sport desapareceu para dar lugar à Orquestra Jazz Albardófia que continuou com esta tradição, e deu alguns espectáculos no demolido Cine-Clube com casas cheias, enquanto a Orquestra Jazz União desapareceu deixando de haver este despique animado nas noites frias das Janeiras e dos Reis.
Numa dessas noites de Reis, o Orquestra Jazz União apresentou-se, na noite de Reis, com os três compéres montados em cavalos dos moleiros de Cavalum e com indumentária de Reis Magos, uma novidade que causou sucesso.
Também havia certas casas que a Orquestra Jazz do Sport visitava e, quase sempre, os vidros das portas sofriam grandes destroços, porque a assistência queria romper a todo o transe, de nada valendo as ordens do dono da casa no sentido de haver ordem e calma na entrada.
Este numeroso público interessado em ouvir as piadas e ditos que os compéres (dois sujeitos de cartola e calças de fantasia) transmitiam aos presentes em cumprimento do programa previamente estabelecido e aprovado pela censura.
A Orquestra Jazz do Sport, já com nome feito, teve algumas saídas a terras vizinhas, podendo citar-se como importante uma ida a S. Pedro da Raimonda em Paços de Ferreira, onde na rica vivenda da Senhora D.na Maria Augusta de Sotto Maior e Menezes, repleta de convidados, actuou a grande altura por ocasião do Carnaval belamente fantasiada, com um programa especialmente organizado para a ocasião, sendo aplaudida com entusiasmo.
Como singela homenagem, seguem-se alguns nomes de pessoas que fizeram parte da Orquestra Jazz do Sport e Orquestra Jazz Albardófia:
Irmãos Bernardino e João Oliveira, irmãos José e Augusto de Sousa, Manuel da Silva Almeida, Américo Clemente Ferreira, Alberto Teixeira, Alberto Vieira, Sargento Francisco da Costa Chicória, Sargento José de Matos, José Teixeira Estrela, José Augusto Baptista, Antero Nogueira, António Ribeiro, Joaquim Moreira, Alberto Silveira, António Melo, Albano Morais da Silva, Jorge Saraiva, António Mário Pinto da Costa, José Martins, António Soares dos Reis, João de Carvalho Moreira, Gregório de Freitas Nunes, Sargento António Rocha, Alberto Oliveira, Joaquim da Rocha Leal, Miguel Pinto Leal e Sargento Costa Pinto.
Tempos que se foram… e por mais que se cante “Ó Tempo volta para trás”, eles não voltam, mas como deixaram a sua marca de saudade, é sempre bom recordar.
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