A FUNDAÇÂO DO PATRONATO DA SAGRADA FAMÍLIA
A
FUNDAÇÂO DO PATRONATO
DA
SAGRADA FAMÍLIA
Painel existente à porta da Sagrada Família |
O Patronato da Sagrada
Família, situado na Rua Direita N.º 87, na cidade de Penafiel, nasceu a 3 de
Maio de 1943.
A fundação desta casa,
foi com a finalidade de resgate das menores extraviadas, mas deveria abranger
necessidades mais vastas da sociedade.
Germinara do fervor
apostólico do ardoroso Jesuíta Padre Mariano Pinho e de D. Sílvia Cardoso, dois
grandes Apóstolos, num retiro feito na então existente Casa de Retiros da
Quintela, na freguesia de Guilhufe, deste concelho.
D. Margarida Pinto
Lopes de Amorim e D. Maria do Carmo Pinto Lopes de Amorim, maiores, solteiras,
proprietárias, residentes na rua de Entre-os-Rios, freguesia de Eja, D.
Laurinda Pinto Lopes de Amorim, viúva, proprietária, residente no lugar da
Igreja, da freguesia de S. Miguel de Paredes e a prima destas D. Maria Teresa
Pereira da Silva Correia de Vasconcelos, solteira, proprietária e moradora na
Avenida Sacadura Cabral, n.° 22 desta cidade, comungando nessa mesma ideia de
apostolado social, resolveram comprar edifício para assim poderem dar corpo à
prestimosa iniciativa.
Hesitou-se, ao
princípio, entre o local da Tapada Sá Pereira à entrada da cidade e o actual
edifício de rés-do-chão e dois andares com um pequeno quintal sito na Rua
Direita, n.° 87 desta cidade. Por fim, as três irmãs Amorim já referidas
adquiriram em seu nome este último imobiliário a Abílio de Queirós Magalhães e
Meneses, viúvo, funcionário público e proprietário, morador na Quinta das
Quintans, freguesia de Lodares, concelho de Lousada, por escritura de compra
lavrada no Cartório Notarial de Penafiel, a fls. 11 do Livro n.° 79 A) no dia
dez de Dezembro de 1942 pelo preço de vinte e cinco mil escudos, tendo por
dificuldades havidas em fechar o contrato sido paga a mais a quantia de
quinhentos escudos sobre o montante inicial. A sisa foi paga nesse mesmo dia da
escritura, na Tesouraria das Finanças Públicas e registada a compra no dia
quinze imediato na Conservatória do Registo Predial da cidade.
Iniciaram-se obras no
edifício adquirido, porque sem as necessárias adaptações e arranjos nada se
poderia realizar no sentido da protecção e recolhimento da rapariga extraviada.
D. Maria Teresa, absorvida por outros interesses, não contava em colaborar.
A
Primeira Sopa para Crianças Pobres
No dia três de Maio de
1943, sob a protecção da Sagrada Família foi inaugurada, a sopa para crianças
pobres dos dois sexos. Tendo, a Ex.ma Senhora D. Sílvia Cardoso verificado o
abandono em que viviam as crianças pobres dos bairros desta cidade, pensou
organizar uma campanha de protecção às mesmas crianças e, para isso, com a
ajuda das Ex.mas famílias Amorim, de Entre-os-Rios e Vasconcelos, de Penafiel,
pensou começar pela sopa. Convidou a Ex.ma Senhora D. Maria Teresa Vasconcelos,
senhora que já trabalhava na Obra do Resgate de Menores Extraviadas a fim desta
senhora tornar à sua responsabilidade o fazer a distribuição da sopa, visto a
Snr.a D. Sílvia ter a sua actividade presa a obras sociais e de apostolado na
cidade de Lisboa.
Instava D. Sílvia
Cardoso, convidando-a a preparar a Primeira Sopa para a Festa da Santa Cruz,
dia 3 de Maio de 1943, às 18,30 horas. Regressou de Lisboa e veio perguntar se
estava tudo pronto mas D. Maria Teresa não tinha nada feito, o que causou
àquela natural arrelia. Uma hora depois volta a aparecer com uma saca de
cenouras, batatas, cebolas, hortaliças, com o fim de confeccionar a sopa na
cozinha da casa de D. Maria Teresa na Avenida Sacadura Cabral, n.° 22.
Compraram-se para o
efeito, seis tigelas e seis colheres.
Prédio onde foi servida a primeira sopa. |
Veio o Digníssimo
Coadjutor do Pároco de Penafiel benzer a Primeira Sopa, distribuída a seis
crianças pobres em honra das Chagas de Nosso Senhor, celebradas nesse dia de
Santa Cruz, a três de Maio de 1943.
D. Maria Teresa
ofereceu-se apenas para assistir à sua distribuição. Na cozinha do seu
Palacete, durante cerca de um mês, continuou a ser confeccionada a sopa subindo
o número de crianças, que dela se alimentavam, para perto de trinta. Como as
obras andassem em curso, trouxeram-se duas pedras, adaptaram-se em cima dois
ferritos para segurar a panela, ateou-se a fogueira. Principiou desta maneira
primitiva, quase pré-histórica, a cozinhar-se a Sopa no edifício do Patronato
da Sagrada Família. Ao fim de três meses aproximadamente as obras de adaptação
terminaram e passou-se para a cozinha própria. O número de refeições
distribuídas aumentava. Como fizesse falta um panelão, formulou-se o pedido
para que Deus tocasse o coração de alguém no sentido de oferecer o necessário
utensílio de cozinha e mais outros auxílios urgentes. Então a Casa se
persuadiria de que a obra era de Deus e haveria coragem para prosseguir. Deus,
a Suma Caridade, velava pela obra nascente. No dia seguinte, apareceu à porta
um carro de bois carregado com um panelão de 70 litros, três tachos, uma
panela, três dúzias de pratos sopeiros, três dúzias de pratos ladeiros,
chávenas de café e de chá, copos, cálices, canecas, uma dúzia de lençóis,
dezoito cobertores, uma dúzia de travesseiros, toalhas de mesa, toalhas de
rosto, duas colheres grandes de cozinha, garfos, facas... Enfim tudo o que se
requeria para uma casa.
A resposta da
Providência impressionou e causou mesmo grande emoção. Passado cerca de um mês
servia-se já alimento ao meio-dia e à noite. Com o avolumar-se das canseiras
incipientes, as pessoas responsáveis tinham de abdicar de outros afazeres para
se devotarem a este encargo social de mérito.
As primeiras cinco
raparigas que entraram para internas
1.ª - Maria Clorinda
Sousa, natural de Penafiel, 25 anos de idade. No dia dezanove de Março de 1943,
já noite cerrada, veio bater à porta da Casa da Sagrada Família, ainda em
obras, a Sr.a D. Arminda Mendes que se fazia acompanhar pela pobre Maria
Clorinda Sousa. Esta rapariga, uma atrasada mental, era maltratada pela mãe que
a espancava e nesse dia a tinha expulsado de casa. A rapariga que se encontrava
bastante doente e cheia de fome, dormiu na rua por não ter onde se refugiar.
Foi nessa ocasião que as portas desta Casa se abriram para receber a primeira
protegida, em dia de S. José.
2.ª - Na última semana
de Abril de 1943 ficou internada nesta casa a menor Maria de Fátima.
3.ª - No mês de Maio de
1943 foi trazida a menor Henriqueta
.
4.ª – No mesmo mês de
Maio de 1943, veio para esta casa a menor de 19 anos Maria da Glória
.
5.ª - No mês de Junho
de 1943 foi trazida por sua mãe a esta casa, a menor de 16 anos Ana Sousa.
E assim se iniciou a
Casa de Trabalho da Sagrada Família em Penafiel, também conhecida por Patronato
da Sagrada Família.
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