05 dezembro 2006

PESCAR O PE(S)CADOR

PESCAR O PE(S)CADOR
CONTO

(A NOSSA GENTE)

Agora que o aborto saltou para a ordem do dia, vou contar-lhes uma história que me foi relatada por fonte fidedigna e que se passou à tempos num concelho vizinho.

A dada altura apareceu na terra uma matolona, que com as suas vestes apertadas e grandes decotes, não só chamava a atenção dos homens por onde passava como deixava sobressair o vale dos seios e as suas formas corporais.

Sempre à mesma hora lá entrava na confeitaria a saracotear. Traçava a perna, puxava do seu cigarro de marca americana, enquanto saboreava calmamente a sua bica.

Os homens, relampejavam-lhe olhares, a que ela discretamente correspondia com um sorriso por entre os lábios.

Isto repetido diariamente por um período de dois meses, até que misteriosamente desapareceu.

Logo que o Chico, que era o servente da confeitaria resolveu bater com a língua nos dentes, o segredo foi desvendado.

A matolona começou a arrastar para o vale dos lençóis os homens do farfalho cá da terra. Como todos guardavam sigilo até porque eram casados, todos julgavam-se exclusivos da aventura.

Sabidola como era, a dada altura foi ela que começou a procurar os seus amantes nos próprios locais de trabalho.

- Ó fulano, aconteceu o pior!... Estou grávida. Ou assumes, ou preciso de duzentos contos para abortar.

Perante este facto, isto é, o escândalo que provocaria não só na sociedade como na família, não tiveram outra saída senão dizer sim ao aborto.

Sendo este peditório feito a todos os galadores da zona, lá se abarbatou com umas valentes massas, e zarpou para outras paragens.

Embora ele negue a pés juntos, diz-se que a troco de informar quem eram os kotas cá do sítio, o único que lhe bicou e não pagou foi o Chico.

Quando alguém com mais confiança lhe aborda o assunto, este deixa sair um sorriso e prontamente responde com a evasiva:

- Não confirmo, nem desminto.

Neste como noutros casos, o segredo continua a ser a alma do negócio.

E pronto.

Esta é a última versão que conheço do conto do vigário, a juntar a tantas outras, só que desta vez, todos lucraram alguma coisa.